Caga ou não caga? | Aos buscadores da Verdade
Você sempre fala (e como fala) que está interessado em encontrar a verdade. Diz que não agüenta mais tanta filosofia de botequim, doutrina de shopping center, mestre sala, guru, blá-blá-blá, pipipi e pópópó. Isto é o que você fala da boca pra fora. Agora, da boca pra dentro, será que você quer mesmo encontrar a verdade ou apenas fugir da mentira? Se você quer mesmo encontrar a verdade. Nua e crua. Direta e reta. É muito simples! Vá até um banheiro publico, sente-se na privada e leia na porta: “Lá fora você é homem, mas aqui dentro você caga”. E pode adaptar pro seguinte: “Por fora você é homem, mas por dentro você caga”. Ou não é assim? Ou estou falando merda?
Você caga ou não caga de medo de se permitir ser você mesmo? “O que vão pensar de mim”, “O que vão dizer”, “Vão me achar isto”, “Vão me achar aquilo”, “Vão me rejeitar”, “Vão me ridicularizar”, etc. É uma merda de pensamento atrás do outro e você acreditando em cada um. Por isto fede! Por isto também que não adianta reclamar, culpar, ou buscar a verdade nas bibliotecas de saneamento metafísico. O cheiro de merda não vem de outro lugar senão da sua própria atitude conivente. É você quem permite que os padrões caguem em você. E sua vida não é uma merda, como você acredita e proclama. Sua vida é o que você faz de si mesmo a cada instante. Quando você se permite ser você, sua vida é única, é impar, é a expressão verdadeira do ser extra-ordinário que você é. Mas quando você se nega, se violenta e se obriga a seguir padrões pra ser aceito pelos outros, reconhecido pelos outros, daí, o primeiro da fila a chutar sua bunda está sendo você mesmo. E viver rejeitando a si mesmo é uma vida de merda mesmo.
Você caga sim. Admita! Caga em quatro níveis (mental, emocional, sexual e físico). Gaga de medo de acreditar no que acredita, de gostar do que gosta, de querer o que quer e de ser como é. Ora, sua vida tem cheiro de ralo porque quem vive sua vida não é você, é a merda do medo. Você é apenas um pau mandado, um coadjuvante, um escravo de padrões que você sequer sabe porque segue e venera. E sua busca pela verdade é medo também. É medo disfarçado de religião. É medo disfarçado de nobreza. É medo disfarçado de rebeldia. Etc. Sua busca pela verdade é uma estratégia sútil que você mantém pra continuar mentindo pra si mesmo. Funciona assim, quanto mais tempo você passa buscando a verdade menos tempo sobra pra você olhar pras suas mentiras.
Em verdade, em verdade, lhe digo, verdade é coisa que serve pra colocar no porta retrato, enfiar na barriga do inimigo, pendurar no pescoço, fazer bandeira, vender nas bancas e jogar na cabeça do juiz. Verdade é papo de religião, papo de filosofia, papo de política. Agora, verdademesmo, é aquele papo que você está evitando ter com o travesseiro, sem fugas, sem justificativas. E o pior é que você sabe que isto é verdade. E o pior [2] é que você nasceu sabendo. E o pior [3] é que você não tem como deixar de saber. Eis ai seu dilema. Você busca a verdade, e quando dá de cara com ela em si mesmo, não quer pagar o preço de ser verdadeiramente você. A vida já havia lhe alertado que mentira tem perna curta, não havia? Pois! É verdade.
Autor: Marcelo Ferrari