A inversão de valores a que muitos de nós fomos e a que somos excessivamente expostos é gritante e perniciosamente enclausurante. Somos respeitados pela grandeza de nossas cambiáveis e desgastantes propriedades e não pela propriedade original de nossas idéias, consciência e visão de mundo. Somos respeitados pela artificial beleza dos móveis de nossa sala de estar e não pela natural beleza que move nosso bem-estar. Somos respeitados se aos outros recebemos com uma mesa farta, mesmo que nossa mente e coração permaneçam vazios e famintos, os quais tentamos saciar, como a grande maioria, de forma totalmente inconsciente, através da busca exterior, no prazer, no prestígio, na ânsia de poder que possibilita o consumo materialista e o alienante entretenimento. Damos a indevida atenção à decoração, enquanto negligenciamos a qualidade de vida e coração.
Nesse aprendido modo inconsciente de existir, continuamos, como adultos crianças, a brincar de viver, construindo nossas casinhas, colecionando nossos carrinhos de ferro e plástico, colecionando bens tecnológicos conseguidos no jogo do mercado do Banco financeiro imobiliário e, raramente, quando nos sombra tempo, exaustos, ligeiramente brincamos de ser mamãe e papai, médico e enfermeira, amantes destituídos de real amor.
Como adultos, adulterados e adulterantes mercadores, através do nosso consentimento servil, perpetuamos esses valores irreais que nos distanciam do Real, falsos valores esses que nos vem de berço, incrementados por um sistema de educação que nos instiga a ser funcionários servis de uma competitiva e desumana máquina alienante, à qual damos o nome de sociedade. Pela ação do medo, somos sócios anônimos dessa fábrica do não-Ser.
Quando crianças, não somos instigados ao questionamento que potencializa as sementes da integridade humana. Ao contrário, pela ação do medo comparativo, somos instigados à imitação rentável e não à descoberta de nossa real vocação, imitação esta que, ao seu tempo, inevitavelmente nos joga no beco escuro e vazio de um estado de existir destituído de real sentido e capacidade de sentir, estado este que tentamos narcotizar através das mais variadas formas de compulsão, as quais tentamos com muito esforço mante-las desconhecidas daqueles que nos mantemos psicologicamente dependentes devido nossa ânsia por aceitação condicionada.
A grande inversão de valores é esta: incentivados por terceiros desconhecidos, em favor da busca de objetivos auto-centrados motivados pela necessidade de segurança psicológica, deixamos de celebrar a alegria de viver; abraçamos a momentânea superficialidade eufórica do ter, descartando assim, a natural e eterna alegria de Ser.
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