P: "Você não ama algumas pessoas mais que outras?, perguntei-lhe. Afinal, mesmo uma pessoa como você tem de ter suas preferências sentimentais.
Krishnamurti tinha a voz tranqüila quando recomeçou a falar. “Para responder satisfatoriamente à sua pergunta, tenho antes de aludir a um ponto. Do contrário, você não poderá aceitar o que lhe vou dizer no espírito em que lhe é apresentado. Quero que saiba que estas palestras são tão importantes para mim quanto talvez o sejam para você. Não lhe falo simplesmente para satisfazer à curiosidade de um autor que está escrevendo sobre mim ou para auxiliá-lo pessoalmente. Falo principalmente para esclarecer muitas dúvidas para mim mesmo. Considero esta uma das grandes vantagens da conversação. Não pense, pois, que eu jamais diga alguma coisa na qual não creia de todo o coração. Não estou tentando impressioná-lo, convencê-lo, ou ensinar-lhe algo. Ainda que você fosse meu mais antigo amigo ou meu irmão, falaria de igual maneira. Digo tudo isto por desejar que você aceite minhas palavras como simples exposição de minhas opiniões e não como tentativas de convertê-lo ou persuadi-lo. Você acaba de interrogar-me sobe meu amor pessoal, e minha resposta é que já não conheço isto. Para mim, o amor pessoal não existe. Considero o amor um constante estado interior. Não me importa que esteja agora com você, com meu irmão ou com alguém inteiramente estranho – tenho o mesmo sentimento de afeição para com todos. Há quem pense, às vezes, seja eu superficial e frio, ser meu amor negativo e não bastante forte para concentrar-se numa só pessoa. Não é indiferença, mas simplesmente um estado de amor constante dentro de mim e que não posso impedir-me de dar a todos com quem entro em contato”. Parou durante um segundo, sem saber se eu acreditava nele, e depois disse: “Várias pessoas ficaram escandalizadas com minha maneira recente de agir depois da morte da Sra. Besant. Não chorei, não me mostrei triste, porém sereno; continuei a minha vida habitual e disseram que eu era despido de todo sentimento humano. Como poderia fazê-las compreender que, dedicando meu amor a todos, nunca me sentiria afetado pelo desaparecimento de um indivíduo, mesmo que se tratasse da Sra. Besant? O sofrimento já não atinge aquele para quem o amor se tornou a base de todo o ser”.
P: Mas deve haver pessoas na sua vida que nada signifiquem para você ou de quem até desgoste?
Krishnamurti sorriu: “Não há ninguém de quem eu desgoste. Não percebe que não sou eu que dirijo meu amor para uma pessoa, fortalecendo-o aqui, enfraquecendo-o ali? O amor está simplesmente aí como a cor de minha pele, o som de minha voz, faça eu o que fizer... Tem, portanto, de achar-se aí mesmo quando estou rodeado de indivíduos que não conheço ou de pessoas que nada “deveriam” significar para mim. Às vezes sou forçado a estar no meio de gente barulhenta, que não conheço; num comício, numa conferência, ou talvez numa sala de espera de alguma estação, onde a atmosfera está cheia de barulho, de fumo, de cheiro de tabaco e de várias outras coisas que me afetam fisicamente. Mesmo nessas ocasiões meu sentimento de amor a todos é tão forte quanto o é sob este céu, neste lindo local. Pensam muitos que sou presunçoso quando lhes digo que a dor e a tristeza e até a morte não me atingem. Não é presunção. O amor que me torna assim é tão natural que fico sempre surpreendido quando me interrogam sobre ele. E não sinto esta unidade apenas com os seres humanos. Sinto-a com as árvores, com o mar, com o mundo todo ao redor de mim. As diferenciações físicas já não existem para mim. Não falo de imagens poéticas, falo da realidade.”
Do livro de Rom Landau - God is my Adventure
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