" Eu vi um poço fundo e escuro; em sua borda havia um balde amarrado em uma corda. Eu vi o balde sendo baixado para dentro do poço e, quando ele foi novamente puxado para cima e para fora da escuridão, ele estava transbordante de água clara e pura. Eu ouvi as palavras: Bem dentro de cada alma existe a pureza do Espírito. Procure sem pressa até encontrá-la e, então traga-a à tona." Eileen Caddy
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sábado, 31 de março de 2012

10 doenças espirituais transmissíveis



Com os olhos bem abertos
A prática do discernimento na senda espiritual

A senda espiritual é como qualquer caminho: há buracos e desvios. Para andar com segurança é necessário uma qualidade muito pouco ensinada mas que se mostra essencial: discernimento. Mariana Caplan nos ensina a desenvolver o critério necessário para levar uma vida espiritual com inteligencia e clareza.

A iluminação tem a ver com uma felicidade repentina ou com o desmantelar de nossas ilusões? Qual é o melhor modo de trabalhar o ego e a sombra? Aqui estas e outras questões são respondidas, oferecendo aos praticantes de qualquer tradição um guia para transitar no labirinto de crescente sutiliza que define uma genuína vida espiritual.
As seguintes 10 categorias não pretendem ser definitivas, mas são oferecidas como uma ferramenta para tomar-se consciência das mais comuns doenças espirituais transmissíveis.


1. A Espiritualidade Fast-Food: Misture a espiritualidade com uma cultura que celebra a velocidade, a multitarefa e a gratificação instantânea e o resultado é provável que seja a espiritualidade fast-food. A espiritualidade fast-food é um produto da fantasia comum e compreensível de que o alívio do sofrimento da nossa condição humana pode ser rápida e fácil. Uma coisa porém é certa: a transformação espiritual não pode ser obtida em uma solução rápida.


2. Falsa Espiritualidade: a espiritualidade do falso é a tendência de falar, vestir e agir como se imagina que uma pessoa espiritual seja. É uma espécie de imitação da espiritualidade que imita a realização espiritual à maneira do tecido estampado de pele de onça que imita a pele genuína de uma onça. (Aqui nós encontramos aquelas pessoas que estão sempre sorrindo e sendo boazinhas, que não dizem palavrões e que jamais se irritam ou perdem a calma. Pelo menos, aparentemente)

3. Motivações Confusas: Embora o nosso desejo de crescer seja genuíno e puro, muitas vezes ele se confunde com motivações menores, incluindo o desejo de ser amado, o desejo de pertencer, a necessidade de preencher nosso vazio interior. A crença de que o caminho espiritual removerá o nosso sofrimento e ambição espiritual, o desejo de ser especial, de ser melhor do que, de ser "o único".

4. Identificando-se com Experiências Espirituais: Nesta doença, o ego se identifica com a nossa experiência espiritual e a toma como sua própria, e nós começamos a acreditar que estamos incorporando insights e idéias que surgiram dentro de nós em determinado momento. Na maioria dos casos, isso não dura indefinidamente, embora tenda a perdurar por longos períodos de tempo para aqueles que se julgam iluminados e/ou que trabalham como professores espirituais.

5. O Ego Espiritualizado: Essa doença ocorre quando a própria estrutura da personalidade egóica se torna profundamente integrada com conceitos espirituais e ideias. O resultado é uma estrutura egóica, que é "à prova de bala." Quando o ego se torna espiritualizado somos invulneráveis a ajudar, a novas informações ou a feedbacks construtivos. Nos tornamos seres humanos impenetráveis, travados em nosso crescimento espiritual, tudo em nome da espiritualidade.

6. Produção em Massa de Professores Espirituais: Há uma série de tradições espirituais em moda atualmente que produzem pessoas que acreditam estar em um nível de iluminação espiritual ou maestria muito além de seu nível real. Esta doença funciona como uma correia transportadora espiritual: coloca um brilho, leva àquele insight, e - bam! - você está iluminado e pronto para iluminar os outros de maneira similar. O problema não é aquilo que tais professores ensinam, mas representarem a si próprios como tendo realizado a maestria espiritual.

7. Orgulho Espiritual: O orgulho espiritual surge quando o profissional, através de anos de esforço trabalhado efetivamente, alcançou certo nível de sabedoria e usa esse conhecimento para recusar novas experiências. Um sentimento de "superioridade espiritual" é outro sintoma desta doença transmitida espiritualmente. Ela se manifesta como uma sensação sutil de: "eu sou melhor, mais sábio e acima dos outros porque sou espiritual".

8. Mente de Grupo: Também conhecido como o pensamento grupal, mentalidade de culto ou doença ashram. A mente de grupo é um vírus insidioso que contém muitos elementos tradicionais da co-dependência. Um grupo espiritual faz acordos sutis e inconscientes sobre as formas corretas de pensar, falar, vestir e agir. Indivíduos e grupos infectados com o "espírito de grupo" rejeitam indivíduos, atitudes e circunstâncias que não estão em conformidade com as regras, muitas vezes não escritas, do grupo.

9. O Complexo de Povo Escolhido: O complexo de pessoas escolhidas não se limita aos judeus. É a crença de que: "o nosso grupo é mais poderoso, iluminado, evoluído espiritualmente e melhor do que qualquer outro grupo". Há uma distinção importante sobre o reconhecimento de que alguém encontrou o caminho certo ou o professor ou a comunidade certa para si e, o tendo encontrado, aquele é O Único.

10. O Vírus Mortal: "Eu Cheguei": Esta doença é tão potente que tem a capacidade de ser terminal e mortal para a nossa evolução espiritual. Esta é a crença do "Eu cheguei" na meta final do caminho espiritual. Nosso progresso espiritual termina no ponto em que essa crença se cristalizou em nossa psique. No momento em que começamos a acreditar que chegamos ao fim do caminho, um maior crescimento cessa.

"A essência do amor é a percepção", de acordo com os ensinamentos de Marc Gafni, "Portanto, a essência do amor próprio é a auto-percepção Você só pode se apaixonar por alguém que você pode ver claramente – incluindo a si mesmo. Amar é ter olhos para ver. É só quando você se vê claramente que pode começar a se amar ".

É no espírito dos ensinamentos de Marc que eu acredito que uma parte crítica do discernimento da aprendizagem no caminho espiritual é a descoberta da doença generalizada do ego e do auto-engano que está em todos nós. Ou seja, é quando precisamos de senso de humor e do apoio de amigos espirituais reais. À medida que enfrentamos nossos obstáculos para o crescimento espiritual, há momentos em que é fácil cair em um sentimento de desespero e auto-diminuição e perder nossa confiança no caminho. Precisamos manter a fé em nós mesmos e nos outros a fim de realmente fazer a diferença neste mundo.

Mariana Caplan, Ph.D.
 
Autora de “Eyes Wide Open” (Olhos Bem Abertos): Cultivando o Discernimento no Caminho Espiritual
 

Distorção de Valores


Filhos do Consumo, upload feito originalmente por NJRO.




Nossas crenças e valores são moldados pela cultura. Embora exista uma base genética para certos atributos e comportamentos humanos, os conhecimentos que possuímos e o modo como pensamos e agimos de acordo com esse conhecimento é fundamentalmente um fenômeno ambiental.



Tendo isso em mente, o sistema monetário precisa de uma forma de comunicação para informar ao público do que uma companhia disponibilizou à venda. Essa forma de comunicação é denominada "propaganda". A característica da propaganda é a "promoção" e promoção é uma maneira de comunicação, que, em geral, cria uma tendência em favor do produto em questão.



Em outras palavras, a função da propaganda é induzir. Ou em termos mais diretos, manipular o consumidor a comprar um produto. Essa manipulação toma muitas formas, mas a mais eficaz é a manipulação e/ou exploração dos "valores" da audiência expectadora – o que ele ou ela acham importante.



Entretanto, antes de prosseguirmos, é preciso salientar que os padrões de consumo em massa atualmente vistos nos Estados Unidos e em outros lugares nem sempre foram o caso.



A América foi originalmente fundada, até certo ponto, numa espécie de ética protestante, onde a economia e a prosperidade eram valores dominantes. Contudo, no início do século XX, um esforço concentrado da comunidade de negócios começaram a distorcer essas noções e formar um novo exército de consumidores impulsivos, sempre insatisfeitos, cientes dos status.



As agências de publicidade mudaram de um foco utilitário para esse calibrado para o apelo emocional e status. Em conseqüência, hoje o americano padrão consome duas vezes mais do que consumia desde o fim da Segunda Guerra Mundial.



Uma das mais poderosas formas de "manipulação de valores" vem da reassociação da identidade de uma pessoa a um ideal específico. O patriotismo e a religião são exemplos clássicos, uma vez que através da doutrinação na infância/juventude, a pessoa é geralmente condicionada a sentir uma íntima conexão pessoal a um país ou religião, condicionando assim essa pessoa a querer apoiar as doutrinas, incondicionalmente.



Outro exemplo disso é o conceito de "moda". A moda toma muitas formas, de roupas que as pessoas usam a ideologias que elas propagam. Para ilustrar o quão bem sucedido a indústria comercial se tronou em manipular os valores dos seres humanos para ganho próprio, muitas pessoas podem hoje serem vistas andando por aí vestindo certos artigos comerciais, apenas pelo propósito de expor a marca da companhia, projetando algum tipo de status social aparente ou "expressão estilizada" delas.



A assinatura camisas "Tommy Hilfiger", a marca comercial de bolsas "Prada" e os reluzentes relógios "Rolex" são exemplos de produtos onde a utilidade ou função de um item perdeu a relevância completamente, sendo a importância agora originada do que o item "representa".



Infelizmente, o que essas pessoas não compreendem é que elas nada mais são do que propagandas ambulantes das respectivas companhias, tão-somente.



O "status" ou "expressão" de fato existe inteiramente nas condicionadas "projeções de valores" dessa pessoa, e se pessoas o bastante são manipuladas do mesmo modo, surge uma "tendência", que reforça mais ainda a ilusão via identificação coletiva. Essas tendências podem se tornar tão poderosas, que aqueles que não aderem à mania podem ser excluídos.



Vaidade à parte, devemos também examinar os valores distorcidos criados na forma de mentalidades e visões de mundo. Essa constante necessidade de interesse próprio normalmente se espalha como um câncer dentro outras áreas psicológicas, criando e reforçando neuroses como "ganância", "inveja" e "ego".



O MOVIMENTO ZEITGEIST
Guia de Orientação ao Ativista
Orientações e Respostas

quinta-feira, 29 de março de 2012

Como reconhecer um canalha


Se você agir sempre com dignidade,
talvez não consiga mudar o mundo,
mas será um canalha a menos.
John F. Kennedy

Significado de Canalha

s.f. A plebe mais vil, gente desprezível.
S.m. e f. e adj. Pessoa sem moral, desonesta; patife, infame, velhaco.
Do italiano canaglia, «patife; canalha»,
Do latim canalĭa, colectivo de canis, «cão»

De cara, ele pode parecer irresistivelmente sedutor. ‎Para começar, o tipo cafajeste é realmente sedutor — e, se nossa autoestima estiver baixa e a carência, alta, ele vai parecer ainda mais irresistível. O cafajeste é propaganda enganosa. O cafajeste conhece a técnica de sedução, da qual faz uso para que seja visto como "o cara". Quem se deixa levar pelo cafajeste é carente e pouco exigente. Como ele cria um papel, e certamente será desmascarado, procura por almas ingênuas. Assim, a farsa dura mais. Recusa sempre a comunicação direta, essa é sua grande arma. Ele destrói sua autoconfiança, mina suas certezas, alimenta suas culpas. Em público, continua agindo como um perfeito príncipe. É sua tática para mantê-lo isolado. O que adianta desabafar se ninguém acreditará em você? Ele sempre enfatiza seus possíveis erros para lembrar sua nulidade. Você acaba se sentindo esvaziado, idiota e sozinho. O tipo é destrutivo e não sabe ser de outra forma. Pode assumir diferentes personagens, tornando mais difícil desmascará-lo antes de o estrago estar feito. Normalmente, foi machucado na infância e tenta sobreviver da forma como aprendeu.

Pra quem tem olhos de ver, um pingo, é "i". Isso vale pra tudo!

Para se aprofundar no assunto, procure pelo livro "Canalha" de Fabricio Carpinejar, Editora Bertrand Brasil
 

Curtas do dia



Photografada : Daniela Indalencio

"Você é [solitário] como pessoa. No seu ser real, você é o todo."

Nisargadatta Maharaj



"Quando uma pessoa reviu um problema de todos os seus ângulos, fazendo isso não apenas com os mais perspicazes poderes da mente mas também com as mais finas qualidades do coração, ele deveria ser entregue ao Eu Superior ao final e dispensado. A técnica de assim fazer é simples. Consiste em ficar quieto. No momento em que se deixa o problema diminuir, a pessoa triunfa sobre o ego... Neste ponto a Graça pode entrar e fazer o que o ego não pode. Ela pode apresentar guiança ou na hora ou numa data posterior, na forma de uma ideia autoevidente."

Paul Brunton



"Deixai o que não vos serve mais. Elevai, ardentemente, a consciência. É preciso avançar."

Trigueirinho



"Para meditar, no sentido mais profundo da palavra, temos de ser íntegros, morais. Não se trata da moralidade de um padrão, de uma prática, ou da ordem social, mas sim da moralidade que brota naturalmente, inevitavelmente, suavemente, quando começamos a compreender-nos a nós próprios, quando estamos atentos aos nossos pensamentos e sentimentos, às nossas atividades, desejos, ambições, etc. — atentos sem qualquer escolha, observando apenas. Dessa observação nasce a ação correta, que não tem nada a ver com conformismo ou com uma ação de acordo com um ideal. Então, quando isso existe profundamente em nós, com a sua beleza e austeridade na qual não há nenhuma rigidez — rigidez só existe quando há esforço — quando tivermos observado todos os sistemas, todos os métodos, todas as promessas e olhado para eles objetivamente, sem gostar ou não-gostar, então podemos recusar tudo isso completamente, para que a mente fique liberta do passado; então podemos prosseguir na descoberta do que é meditação."

Krishnamurti   

terça-feira, 27 de março de 2012

Educação e a responsabilidade social - Eduardo Marinho



Eduardo Marinho: Olha eu não tenho nada programado não; a idéia é essa ai. Estou esperando as perguntas, você vão ter que fazer essa palestra. Não tem dúvida não? Alguma pergunta? Ficou várias coisas pela metade ali. Na hora que eu falei "raiva", ela tinha me perguntado assim: "O que que você sente quando você olha para a nossa política?" Ela fez uma boa pergunta. Tem várias coisas ali que ficou só um pedaço.

Eu não acho que eu tenha feito algo que tenha merecimento, não; eu fiz por uma necessidade interna. Na verdade, eu não sabia o que é que eu estava procurando, o que aconteceu é que eu olhava pra vida e todas as opções que eu via na minha frente pareciam furadas. As pessoas diziam que era isso que tinha e eu falava: "Não é possível! Tem que ter alguma outra coisa!... Não é possível que a gente nasce para constituir matrimônio... A gente não leva!... A gente está de passagem!"

Uma pergunta que eu faço para colocar as pessoas para pensarem é "Qual o contrário de morte?" Eu sei que é uma pergunta forte, meio baixo astral... É uma pergunta natural que talvez a gente entre. A resposta mais comum, é vida. A morte é um momento, a vida é um espaço de tempo. A morte é a porta de saída, a porta de entrada é o nascimento. Então a gente tem a entrada, a passagem e a saída... A gente está de passagem...

Quando meu pai me perguntou, nos últimos papos que eu tive com ele... Ele estava lá, nervoso...

— Pô! Afinal de contas o que é que você quer da vida?

— Tudo que eu puder levar!

Ele parou; me olhou:

— Você está com problema!...Você precisa de ajuda!

E eu fiz a Via Cruzis... Eu fui num psicólogo até o cara falar que "Não! Ele não pode estar equilibrado, não!"... Depois eu fui num psiquiatra e ai o psiquiatra falou: "Não, ele não está doido não!"... Ai me levaram num padre, porque eu só podia estar endemoniado. Então o padre pediu para ficar sozinho comigo e daqui há pouco ele falou que estava tudo certo, que aquilo era um heroísmo, que a minha vida ia ser muito difícil, mas muito bonita e tal... E quando eu sai dali, ninguém acreditou....

— "É mentira sua!"

E ai, cortaram as relações comigo e eu fiquei sem contato com os meus pais, tive filhos, eles cresceram e não conheceram minha família. Isso, pode ser tido como uma lástima mas, na verdade, me ofereceu a oportunidade de experiências incríveis, porque eu não tinha para quem pedir socorro. Então, quando o "bicho pegava", eu tinha que resolver... Como a gente fala no Rio, quem tinha que desenrolar era eu mesmo. Eu já fui preso chegando na cidade! Nem, sabia por que eu estava sendo preso. E eu tinha que conversar com o delegado....

Bom, tá gastando! Ninguém tem pergunta a respeito? Uma? Pô! Tanta gente!...

Acadêmico: Acho que só pra gente começar a conversar, então: como é que foi essa tua vivência da educação, no processo de educação que a gente viu no vídeo, principalmente tua posição, e como tu enxerga isso, Eduardo, com relação realmente a função social, graduação, enfim, e a função social desse ensino que tivemos?

Eduardo: Bom! Eu, não terminei a Faculdade, mas estudei em colégios muito bons: colégio militar, colégio marista... Então, eu tinha uma bagagem de conhecimento muito boas, só que eu nunca vi isso como superioridade, mas como responsabilidade: eu sei mais do que a maioria, então eu tenho uma responsabilidade com essa maioria; vou levar esse conhecimento onde eu for! Eu vou dizer para todo mundo! Porque, na verdade, quando eu sai do exército, que é o melhor ensino médio do Brasil e fui fazer o cursinho pré-vestibular, eu convivi com pessoas que estudavam no ensino público e eu achava que eles estavam de sacanagem quando eles não sabiam nada! E um deles, uma vez, me trouxe uma prova do ensino público, do terceiro ano... Eu achei que era mentira!... "Não, não é possível! Uma prova com essa superficialidade, não é possível! Você está brincando! Não é assim!"... Ai eu comecei a perceber que o ensino público é uma sabotagem!... As pessoas falam que o ensino é ruim porque os políticos são incompetentes; eles não são incompetentes não! Eles são muito competentes. O problema é que o compromisso deles não é com o povo, não é com o povo: é com os financiadores de campanha. Os financiadores de campanha são pessoas privilegiadas, que necessitam, para manter seus privilégios, que o povo seja ignorante. Então, sabota-se o ensino público.

Eu estava olhando o período do Getúlio Vargas, quando ele fez aquela lei que obrigava toda criança de sete a quatorze anos a frequentar escola. Até então, a criança pobre não ia pra escola; era analfabeta. Talvez uma escolinha de fundo de igreja, que ensinasse a escrever alguma coisa, fazer uma conta, pra servir num balcão, mas nunca pra preparar realmente. E a escola pública ela se destinava a uma classe mais elevada, tanto que tinha concurso. Quando a rapaziada mais pobre começou a entra, porque não foi assim, a lei foi feita aqui e no ano seguinte está todo mundo dentro da escola... Foi aos pouquinhos! Os filhos da classe mais pobre começaram a entrar numa escola pública que tinha qualidade. E uma coisa que eu reparei convivendo lá nas periferias é que quando o menino chega da escola com uma novidade e começa a falar, a família para... A família pobre cerca o menino e fica ouvindo. Então, imagino que nessa época, a quantidade de filhos que vinham pra casa e começavam a explicar como a sociedade funcionava, o que que tinha aprendido na escola, foi muito grande. Eu acho que por isso, nessa época, o sindicalismo foi tão efervescente porque os pobres começaram a entender como funciona:

— "Pera aí! Nós estamos sendo sacaneados! O Poder Público tem obrigação de cumprir com a Constituição e dar Educação de Qualidade!"...

E começou a exigir, e começou a dar fruto, e começou a efervescência. E ai a nata dos empresários começou a ver aquilo com preocupação:

— Como é que sabota isso? Como é que para com isso? Esse povo está muito, está muito agitado!

Tanto que o João Goulart, que foi o último presidente democrático, ele deu 100% de aumento no salário mínimo, ele decretou a reforma agrária, desapropriando em torno das rodovias e das ferrovias federais e fez uma série de mudanças que atendiam as reivindicações das classes mais pobres. Não é atoa que derrubaram! Tinham que derrubar! E assim que os militares chegaram ao poder, a lei que cuida da carreira dos professores, não estou lembrando o nome, parou! O aumento salarial do professor, parou, a inflação comeu! Começou a pipocar um monte de escola particular, a rapaziada mais abastada começou a tirar seus filhos da escola pra não se misturarem, começou a botar na escola particular, a escola particular começou a pagar melhor. Os professores públicos passaram a ganhar pouco, começaram a passar para as escolas particulares e o que ficou na escola pública foi o resto. De 64 pra cá, gerações se passaram e o processo de sabotagem foi só aumentando. Hoje, o ensino público é uma ruína. A quantidade de professores que tem problema nervoso é enorme e as pessoas não se preocupam. O Governo agora está fazendo uma repressão encima dos professores, dizendo que a culpa do ensino ser ruim é dos professores. Eles estão sempre colocando a responsabilidade no lugar errado. Na verdade , eu atribuo isso a uma estratégia:


Você quer controlar um povo? Sabota a educação e controla as comunicações! Com a mídia privada você cria a desinformação completa! Você forma valores! A pessoa que é pobre se sente inferior; a pessoa que é abastada se sente superior. Isso é colocado no subconsciente... Você vê um cara que é endinheirado, se ele é bom de coração, ele trata com a educação, com benevolência, mas você sente que ele sente superioridade. É inconsciente. Assim como o cara que é mais pobre se sente inferior, inconscientemente. Ele disputa entre os pobres. No Rio eu vejo muito isso: o pobre aguenta ouvir de um rico, coisas que ele não aguenta ouvir de outro pobre; ele reage. Mas, se ele está diante do patrão dele, não reage; ele tem medo e se sente inferiorizado. É como se o cara tivesse mais direitos do que ele. Isso é colocado no inconsciente. Eu atribuo isso a uma estratégia mesmo de dominação. Por isso que a educação não é ruim porque os políticos são incompetentes; é ruim porque interessa ser ruim. Está bom pra você?

Acadêmica: Eduardo, eu sou uma acadêmica de psicologia, meu nome é Andrea. Num vídeo do seu blog, tem um professor que ele cita Fernando Pessoa, e ele diz a seguinte frase: "O indivíduo é o cadáver adiado". Eu queria saber o que você pensa sobre o indivíduo, sobre a questão de liberdade e de individualização.

Eduardo: Não tinha mais fácil, não?

Platéia: Te falei que vinha bomba!

Eduardo: Eu acho que o indivíduo e o coletivo, eles se assemelham. O que você vê no indivíduo, você vê na coletividade. É o micro dentro do macro. Você já reparou como o sistema solar parece um átomo? Eu acho que as coisas são encaixadas. As mesmas idiossincrasias que você vê no indivíduo, você vê na sociedade: esquizofrenia é o que mais tem! Não é? Bom: especifica aí! Cadê o microfone dela?

Acadêmica: É que é assim! Faz uma critica com relação ao sistema que a gente vive, o sistema social... Eu queria saber o que que tu pensa sobre a liberdade de expressão, sobre a liberdade do indivíduo, como se constrói isso, sobre a individualização, essa questão toda. O que tu pensa sobre isso?

Eduardo: Olha, liberdade de expressão a gente praticamente não tem, não é? A não ser no particular. Porque se você vai às redes de comunicação, você não tem liberdade nenhuma. Você tem liberdade de mentir. É o que a mídia reivindica: liberdade pra mentir. Você vai querer regular, vai querer botar algum organismo tomando conta, movimento social tomando conta da mídia, eles reagem na mesma hora: "Liberdade de expressão!" Só que eles mentem!... Uma coisa que me deixa pasmo é que essas TVs já foram flagradas, mentindo seriamente. Ao longo de décadas a gente vem vendo denúncias em cima de denúncias... Lembram das diretas já em São Paulo, que eles disseram que era uma comemoração de aniversário?... De lá pra cá tem um monte de mentiras e as pessoas continuam acreditando! E eles não sofrem a menor repressão! O que, para mim, é um sintoma de que eles estão instalados no poder, na sociedade. Na verdade, a cena política, para mim, é um teatro de marionetes. Tanto que eu já não fecho mais com aqueles movimentos que saem xingando político. Não brigo com boneco. Vamos denunciar quem está por cima dele, porque quem segura as cordinhas, fica no escuro! Quem segura as cordinhas, comanda os holofotes! Os holofotes são a mídia e a mídia mira nos bonecos. E as pessoas pensam que o político é responsável... Não! Isso é planejado pelo chefe dele, que é o cara que bota dinheiro na campanha! Se ele pisar fora da risca ele não tem mais dinheiro pra campanha! Então, a gente precisa parar de acreditar que o poder é político. Não é! O poder é econômico! Está atrás do mercado. O mercado é um nome genérico que esconde meia dúzia de famílias, que é quem domina o mercado. Tem alguns milhões de figurões que eles controlam, agora, quem domina mesmo, meia dúzia, no máximo dez famílias, estão dominando. E dominam aqui pra dentro porque pra fora eles se modernizam. Existem maiores ainda... O Grupo de Bilderberg... Alguém já pesquisou o Grupo de Bilderberg?... Está no Google!... É uma turminha da pesada! Que se reúne uma vez por ano e fecham a cidade, eles se reúnem e discutem as políticas públicas pros estados que eles vão impor aos estados, sob pena de reprimir o governo. Pra ai está a mídia! Pra ai está o dinheiro! Pra ai está o financiamento de campanha. O controle da sociedade é exercido pelo escuro, mas ele não é impossível de ser visto! Você só precisa desacreditar nas verdades que foram contadas, imutáveis... A gente é cercado de mentira por todos os lados!... O mundo não é o mercado. A humanidade é uma coletividade solidária, assumindo isso ou não. Todo mundo sofre os efeitos do comportamento coletivo. A vida não é uma competição, a vida é muito melhor quando você coopera. Competir é angustiante... Eu acho que nunca se tomou tanto anti-depressivo, porque as pessoas acreditam nisso, correm atrás e a partir de uma certa idade, perde o sentido! Dá uma angústia! Porque não é isso que se quer da vida!... Felicidade é consumir, é ter coisas, é ter luxos... É mentira! Felicidade é gostar e ser gostado! Felicidade é se relacionar bem com a coletividade! Felicidade é se sentir útil pra coletividade!... Mas eles plantam essas idéias!

A publicidade ela entra em todos os lugares... Você abre, acordou de manhã, lavou a cara, abriu o armarinho, tem um monte de marca na sua cara!... Você saiu do portão tem propaganda... Passa um táxi, um ônibus: publicidade! Ligou televisão: publicidade! Dentro do filme, dentro da novela, subliminares, o tempo todo a gente está sendo induzido! Se a gente está distraído, a gente adere à todos esses valores e são todos falsos!

Uma coisa que me apavorou quando eu tinha dezenove anos — eu estava até falando com a Patrícia —, quando eu tinha dezenove anos eu conheci uns velhinhos que eu percebi claramente nos olhos deles, a angústia de ter tido uma existência em vão! É um sentimento assim: "Poxa! Me enganaram e agora, não dá mais tempo!"... Eu fiquei apavorado!... "Ah! Eu não vou por ai! Não vou mesmo! Não sei por onde vou, mas por ai, não vou! Eu morro antes de chegar nessa idade, mas eu não vou chegar nessa idade desse jeito!"... Eu já tinha percebido que me enganavam quando eu estava no exército, que aquilo lá não defende porra nenhuma! Aquilo lá ataca o povo! Está pronto pra isso! Depois eu fiquei sabendo que foi dinheiro do exterior que financiou a escola de oficiais do exército brasileiro, em Rezende, um cidadezinha que tinha 20.000 habitantes, antes disso era em Realengo, um bairro popularíssimo... Então, os caras se formavam indo às festas ali no bairro, se sentiam parte da população... Não é atoa, que até antes da segunda guerra mundial, todos os movimentos revolucionários tinham militares no meio. Depois da segunda guerra mundial, o Brasil subalternizado, o exército brasileiro subalternizado ao exército estadunidense, ai houve essa separação: a escola de oficiais vai pro meio do mato, fica isolado. Quando eu estive no exército, uma das primeiras coisas que eu ouvi é que militar não é parte da massa; o militar é superior à massa. O último grau do militar que é o soldado, ele é superior ao paisano. Na lista, que eles deram de hierarquia, por último, vem o paisano. Ele nem militar é, como é que vai ser subalterno? Mas isso é plantado no inconsciente do militar, ele acredita nisso, ele se sente assim! Entendeu? Tudo isso faz parte de uma estratégia de dominação da coletividade, que resulta em esvaziar a vida da gente. A gente vive a angústia da moda, porque acredita em valores falsos! Se a gente parar para refletir — outra atividade que é reprimida, a reflexão —... "Não reflita! Deixe que a gente reflete pra você!"... Eles colocam as reflexões, as explicações, as verdades, e se você pensa, o próprio meio social vai te reprimir... "Você não pode pensar assim não!"... Eu ouvi isso quantas vezes. "Menino, não se pergunta tanto assim não! Isso não se pensa! Ninguém sabe como é que é!"... Quer dizer: o questionamento real, ele é reprimido. Se você questionar como comprar um carro, como é que eu vou ganhar dinheiro, pra isso você é estimulado! Ai você vai esvaziar a sua vida. A partir de uma certa idade, você vai começar a ter uma angustia incrível, porque você vai começar a ter a sensação de que te engaram (isso se você tiver alguma capacidade reflexiva). Tem gente que passa boçal ai pela vida inteira e acha que é isso mesmo! Mas está rotulado se se tocar! Mas em geral, as pessoas tem que se reprimir: "Não: eu tenho que me adequar!"... As pessoas acreditam que tem um problema... Quantas vezes eu pensei que eu tinha alguma coisa errada?... "Eu tenho que ter alguma coisa errada! Só eu que penso assim! Só eu que me angustio! Só eu que não quero o que todo mundo quer!"... Foi a pergunta que eu ouvi do meu pai:

— Você pensa que é melhor do que os outros pra não se satisfazer com o que tudo mundo se satisfaz?

Quer dizer: você passa a ser discriminado. E, no entanto, você está tentando se aproximar da realidade, porque essa que é pesada pra gente, é toda falsa! Ela rompe as pregas no primeiro balanço. O problema é que ninguém ousa balançar; ou são poucos. Mas ela rompe, geral, é só prestar atenção que você vai ver que é tudo indução... os valores, os objetivos de vida, os desejos... Eu trabalho muito em favela, sabe, e eu vejo que o cara, o cara tem um filho na escola, ele sabe que a escola é uma porcaria, que o filho vai ter terminar o ensino médio e mal vai conseguir ler um texto, mas ele não reivindica esse direito constitucional que ele tem... Ele está sonhando com aquela marca no corpo dele pra ser visto socialmente, ele quer um celular de marca, um tênis de marca, uma roupa de marca, ele foi induzido a querer coisas de quem já tem seus direitos garantidos. Ele não luta pelos direitos, ele acha que isso mesmo... "Não, é sempre assim! É incompetência dos políticos!"... Ele acredita nesse monte de mentiras... Está bom pra você?

Acadêmico: Eduardo, retomando a a situação da palestra, "Educação e a responsabilidade social", tu fala com teu vídeo, fala continuamente, sobre a parte de competição. A gente está dentro de uma universidade, que a gente se diz comunitária, e a gente acaba que a formação, aqui dentro, a gente busca muito, são professores e acadêmicos com uma competitividade tão grande, um com o outro... É professor dizendo, dentro de sala de aula, que não adianta tu ajudar o do lado que ele vai ser o teu concorrente mais tarde, então, eu queria que tu desse uma conversada sobre isso assim, principalmente sobre essa parte de cooperativismo e da responsabilização do ensino superior, dos acadêmicos que saem daqui, a quantidade de pessoas que tem lá fora e que não tem a oportunidade de ter um conhecimento que tem aqui dentro, a responsabilidade das pessoas que estão aqui e que tem esse conhecimento, de levar lá pra fora, de disseminar isso, disseminar esse conhecimento.

Eduardo: Olha, eu estive no Paraná, num evento chamado "A geografia dos excluídos e os excluídos da geografia", eu fiquei surpreso de encontrar lá, uma rapaziada... Eu vinha decepcionado com a Universidade há muito tempo... Houve um processo de dispolitização da estudantária... Eu peguei o finalzinho da ditadura, era muito divertido. Mas, de lá pra cá, as cabeças foram caindo, foram caindo e as pessoas foram ficando cada vez mais egoístas. Eu acho que esse é um processo induzido também. Todo mundo sendo inimigo, as pessoas não se unem. Isso interessa pra quem está lá em cima. Seja bom, seja melhor que os outros e eu te premio. Não é verdade? Aqui todo mundo já estudou às custas do povo, não é? Do povo! O sistema tributário no Brasil, ele está em cima do consumo, então, a carga maior é em cima da população. Aqui todo mundo está estudando às custas do povo. Agora, quem é que tem a intenção de levar esse conhecimento que busca aqui — e que é negado ao povo —, pra servir ao povo? Não existe essa mentalidade a não ser nas exceções e essas exceções sofrem: são discriminadas, são marginalizadas, muitas vezes, são até perseguidas. Mas, é o tal negócio: uma coisa é o que você julga ser o seu direito, uma coisa é o que é o direito legal, outra coisa é o que é o direito moral. Eu acho que, moralmente, todo mundo da universidade tem dívida com a maioria, porque a maioria, já nasce sabotada. Se você é filho de analfabeto sua escola vai ser uma porcaria. Se você é filho de pobre a sua escola vai ser uma porcaria. Você não vai a lugar nenhum com essa escola. Provavelmente você vai abandonar no meio do caminho. Se não me engano, o índice este ano está em 70% de abandono; a rapaziada que entra, 70% não sai, no ensino médio... Não termina... A escola expulsa as pessoas... A evasão escolar, dá a impressão que as pessoas abandonam a escola. Não! A escola abandona as pessoas! Na verdade, o ensino público não merece nem o nome de ensino... É uma sabotagem, descarada. Quem tem acesso a privilégios negados à maioria tem obrigação com essa maioria, ainda mais que é essa maioria que paga e paga com sangue, com suor, com sofrimento. É arrancado deles, eles não pagam sabendo que estão pagando; eles pagam porque eles tem que comer: quando eles compram a comida, quando eles pagam o sapato, eles estão com esse imposto lá, está sendo arrecadado. Então, eu acho que qualquer universitário tem uma dívida moral. Eu não tenho a manha de chegar num universitário e dizer: "Olha, você tem uma dívida moral" e botar o dedo na cara dele. Ele tem a consciência dele. Na minha consciência, na minha opinião, qualquer pessoa na universidade tem uma dívida moral com a maioria e devia tratar essa maioria com muito carinho, porque eles são sacaneados, eles são vítimas de uma sociedade que é estruturada em cima da miséria. A miséria não existe porque é inevitável; ela existe porque ela é necessária para essa estrutura que existe ai. Na verdade, eu penso que o estado devia ser estruturado pra priorizar situações de facilidade. Quem tinha que ser mais importante, não é o dono do negócio, não é a isenção fiscal pra empresa... O que tem que ser priorizado é idoso, é miserável, é doente, e, sobretudo, criança. As crianças tinham que ter um ensino muito bom e, no entanto, não tem. O que eu vejo é um estado criminoso que não cumpre nem a sua constituição, porque a obrigação do estado é garantir educação de qualidade, alimentação de qualidade, moradia, dignidade e cidadania. Alguém pode dizer que ele garante alguma dessas coisas? Não garante nada e ainda piora tudo! Por que? Porque quem está controlando o estado são grandes empresas que pra pagar salário baixo, precisa ter muito desemprego pra que os funcionários aceitem um salário baixo, em situações escorchantes de trabalho, com medo de cair na miséria. Então, a miséria é necessária pra chantagear as pessoas. Está bom? Olha o microfone lá atrás!

Acadêmico: Boa noite! Meu nome é Maurício e eu sou um acadêmico do curso de Direito e, voltado para o Direito, eu queria fazer a seguinte pergunta pra ti: Que que tu pensa sobre o poder judiciário brasileiro e os juízes em si?

Eduardo: Gilmar Mendes... Responde tua pergunta? É outra área dominada. Esse cara foi colocado lá. Ele defende interesses... Alguém lembra do lance do Protógenes, quando prendeu aquele banqueiro lá, Daniel Dantas? O cara já sabia da mutreta, então, ele juntou uma quantidade imensa de provas — ele é de Niterói, lá onde eu moro e eu cheguei a ver uma palestra dele, depois — ele juntou um montão de provas, procurou o juiz, apresentou a metade. Ai o juiz olhou, conferiu, falou: "Não! Mandato de prisão!"... Ai ele saiu, tomou um café, voltou, procurou o mesmo juiz e apresentou a outra metade e o cara deu um segundo mandato de prisão. Ai ele foi buscar o cara, prendeu, trouxe pra delegacia, em duas horas, era de noitezinha, o Gilmar Mendes saiu da casa dele e foi no Supremo, deu um Habeas Corpus — tinha dois mil Habeas Corpus esperando — ele deu na hora um Habeas Corpus, chegou na delegacia, soltaram o cara. Ai o cara foi pra casa, o Protógenes estava na porta da casa dele com o outro mandato; pegou ele e levou de volta pra delegacia. A impressão repercutiu. Chamaram o Gilmar Mendes de novo, ele voltou lá e deu outro Habeas Corpus. Isso é uma palhaçada! O sistema judiciário é um sistema que não tem moral. Tem muita gente sofrendo lá dentro, gente boa, que entra com boa intensão, de buscar justiça e esses são os mais discriminados. Se você vai no fórum você vê isso. Eu detesto ir em Fórum, a defensoria pública é uma desgraça. Você tem que perder um dia inteiro lá, pro advogado dizer pra você que não vale a pena não você entrar com uma ação, que não vai dar em nada. São pessoas que recebem condições de trabalho num último patamar ali, mas não gostam de estar ali. O direito é uma área nevrálgica e é colocado de lado, enquanto isso ele é controlado, sabotado pelos caras que... Eu tenho a impressão que os caras já estão investindo na Academia: procuram os mais irracionais e falam: "A gente vai propor aqui pra vocês... O Gilmar Mendes eu acredito que foi assim, tanto que ele foi lá pro Supremo. Olha esse Advogado Geral da União... O engavetador geral da república, quanta coisa séria chegou nele e ele engavetou? Quer dizer, é mais uma área pra ser controlada, faz parte da estratégia. Do mesmo controle sobre a educação, sobre a comunicação, é sobre a área jurídica, sobre a área política, eles controlam as áreas estratégicas e a gente parece que não percebe, as pessoas não percebem. Eu chamo de narcotização midiática: as pessoas buscam entretenimento. Entretenimento é uma palavra que me irrita porque é coisa de quem não tem o que fazer, então tem que se entreter. Tem muita coisa pra fazer. Eu tenho uma sociedade que me incomoda sobremaneira, preciso me contrapor à isso. Eu não quero me divertir. Eu me divirto trabalhando. Eu coloquei minha vida à serviço de trabalhar por mudanças. Se vai ter mudança ou não vai ter, não me interessa. Eu trabalhando por mudanças, eu estou sentindo a minha vida. Se eu trabalhar pra mim mesmo, pra enriquecer, eu vou me sentir um idiota: isso eu não vou levar pra lugar nenhum. A minha satisfação pessoal é muito maior do que participar de privilégios. Ao contrário: me incomoda eu ver desperdício, porque nos momentos mais nevrálgicos da minha vida, eu fui obrigado a ir na casa de gente muito pobre, sabe, e eu vi muitas solidariedade, eu vi muita beleza. Eu sempre sentia dentro de mim uma injustiça muito grande: por que é que essa gente não tem nem o que comer? Como é que eles não tem acesso ao conhecimento? Não é difícil! Me dói! Então, quando eu vejo privilégios, ostentações e desperdícios, eu acho isso de uma grosseria, de uma desumanidade... Só desejar isso, pra mim já é vergonhoso, não me interessa! Meu sonho de consumo é nunca mais me preocupar com contas, só isso! Porque ai eu posso me dedicar mesmo ao trabalho. Você vê: eu tenho um blog com 1700 seguidores e tal, eu queria poder dar assistência à esse blog. As pessoas divulgam, mas eu não posso, eu tenho que estar fazendo desenho e tenho que estar botando na rua. Então, fica mais no contato pessoal, um à um, do que no coletivo com o blog, que eu acho que teria muito mais alcance, mas eu não posso, porque do blog não vem o pagamento das minhas contas. Vem da venda de desenhos que estão ali fora. Entendeu? Então, o que eu desejo de material, é só ter a minha base tranquila, mais pra mim é vergonhoso. Ter demais, uma casa com piscina, não quero! Eu não condeno ninguém. Eu não olho com raiva pra quem está ostentando. Só não quero pra mim. Porque, em cada idéia que eu tenho, eu tenho junto a possibilidade de estar errado. Eu não tenho as minhas idéias como verdades. Então, eu não tenho direito de impor isso à ninguém. Se o cara acha que o objetivo da vida é enriquecer, vai! Eu não vou dizer que ele está errado. Ele está certo, ele está seguindo a consciência dele, ele está certo. Outra coisa que eu vi: as pessoas às vezes apontando a respeito dos meus pais que cortaram relações comigo, não foi só os meus pais... Meus pais, minhas irmãs, meus padrinhos, meus tios, meus primos, todo mundo. E, as pessoas me conheciam e eu vi que pela expressão elas tinham raiva... "Mas como é que eles podem fazer isso com você?"... Não, eles estão seguindo a consciência deles, eles acham que tem de fazer isso. Então, eles estão certos. Mesmo que no final se prove que isso foi um erro, eles estão certos porque eles estão seguindo a consciência. Se você comete um erro seguindo a sua consciência, você está certo. O que precisa é ter humildade pra na hora que você perceber que aquilo está errado, você reconhecer que estava errado e mudar o rumo. É fácil! Eu vejo que as pessoas tem muita dificuldade, mas existe um sentimento plantado que é o sentimento de orgulho... Você tem que ter orgulho! Isso faz as pessoas ficarem frágeis... O cara diz: "Você é um babaca!" E eu? Eu fico com raiva? Não! Ele acha que eu sou um babaca, é um direito dele, cara! Se ele ficar insistindo muito, eu já vou suspeitar que ele não me acha babaca nada, ela quer só que eu fique com raiva dele. Já perguntei várias vezes, você quer ficar conversando com um babaca? Por que você não vai procurar uma pessoa mais interessante? Entendeu? Quando a gente tem humildade, a gente está imune contra a humilhação. Já quando a gente tem orgulho, qualquer coisa humilha a gente, qualquer insulto ofende. Uma coisa que eu digo pros meus filhos, desde pequenininhos: "o orgulho é um sentimento de superioridade que inferioriza sua capacidade, enquanto que se você for humilde, você aprende o tempo todo e nada te humilha". Uma pessoa que diz que você é uma bagaça é só uma pessoa que diz que você é um bagaça. Porque você vai ligar pro que ela está falando? Não dói! Está bom?

Acadêmico: Oi, meu nome é Patrick, sou da primeira classe de psicologia e tenho duas perguntas pra ti. Na verdade, mas pra ouvir tua opinião. A primeira é que aqui no Brasil, em 2014 o Brasil vai ser o censo do pais mais forte, a economia mais forte do mundo. Mas cada dia, eu acho que aqui no Brasil, a desigualdade social ainda cresce mais. Vai ser a maior economia do mundo mas vai ter ainda uma desigualdade social imensa. Tem pessoas que tem muito e tem pessoas que não tem nada. Pra ti, qual é a chave pra mudar isso? Tua acha que algum dia o Brasil vai lograr, ou mudar isso de pessoas que não tem nada e de pessoas que tem muito? Ou isso sempre vai existir e nunca vai poder tirar isso? E a segunda é: tu acha que a vida vai voltar, vai tirar esse conceito que você falou que a cada dia as pessoas querem comprar mais, ter um carro mais caro, querem ter assim, dinheiro, querem isso que é a felicidade para elas. Tu acha que algum dia vai haver uma mudança que as pessoas só vivam para viver, não para as coisas, mas para olhar o céu, desde pequenas assim, não essa coisa de ficar pensando no dinheiro o tempo todo. Qual é a tua opinião com as duas perguntas que eu fiz?

Eduardo: Olha, eu tomo muito cuidado com essas palavras "sempre" e nunca" porque elas duram mais tempo do que a gente vive, vão pra eternidade. Ao mesmo tempo eu vejo, à minha volta, que tudo muda o tempo todo; nada fica como está. A sociedade não foi assim sempre e não vai ser assim sempre. Eu espero que mude pra melhor. Eu acho que do jeito que está, piorando tanto, os preços dos alimentos subindo... Eu tenho vizinhos que estão botando água no leite das crianças, que estão comendo carne uma vez por semana, isso caminha na direção relevantes. Em São Paulo está tendo levantes à toda hora, não sai na mídia, mas está tendo levantes à toda hora. Eu acho que vai ter convulsão. E também eu penso que o trabalho principal, na direção da mudança é a conscientização. Eu gostaria muito que esses revolucionários que tem por ai, ao invés de querer conduzir as massas, se dessem ao trabalho de conscientiza-las. Pra isso eles vão precisa daquilo que eu falei: humildade... Descer do pedestal acadêmico e aprender a língua da população. Porque eles chegam lá dizendo em paradigma e ninguém entende o que eles estão falando. Que que custa falar moderno? Outro dia lá na favela foi um pessoal de um partido desse ai, e eu estava com um camarada meu. Ai quando o cara mandou assim,: "Que a luta de classes"... Que luta de classes, cara? Num tem luta quando um lado só apanha e o outro só bate. Vamos tomar uma cachaça? E deixou o cara falando sozinho, cara! Não fico ouvindo. Ai o cara se indigna com o sentimento dele e fala: "O povo não se interessa!" e ele não percebe que ele não fala a língua daquele povo. Ele fala "academês". Não dá pra você falar "academês" com o povão. Quem faz revolução é a população, não é a academia. E pra você mobilizar a população, no mínimo, você tem que falar a língua dela. Se o cara desce do pedestal acadêmico e vai vivenciando, junto da periferia, junto da favela com olhar de aprendiz, não é ir lá pra ensinar não, é ir lá pra aprender. Porque se aqui tem muito saber, lá tem muita sabedoria. Se um acadêmico entra lá, com o olhar de aprendiz, porque eu quando entrei lá, entrei curiosíssimo. Eu sabia que existiam códigos que eu não entendia, sabia que tinha valores que eu não entendia, então ficava o tempo todo observando e eu via que ali tinha muita sabedoria e eu fui aprendendo a falar a língua deles. Por isso que eu tenho facilidade de falar de um modo que todo mundo entende. Ao mesmo tempo que aqui na academia as pessoas estão vendo e gostando, lá no comitê cultural revolucionário de Acaí, também estão me ouvindo porque eles entendem o que estou falando. É simples. Agora, neguinho parece que tem preguiça, não que conscientizar, quer conduzir as massas. E ainda ficam com raiva quando eu digo: "Olha, vai entregar pizzas se você quer conduzir massas". O povo não precisa de liderança, o povo precisa de consciência e tem muita gente fazendo esse trabalho, acadêmicos e não acadêmicos. Eu sei porque eu trabalho em favela muitas vezes e sei que tem muito movimento cultural rolando. Tem muito trabalho de base acontecendo. Ele não aparece e é bom que não apareça, porque se aparecer, o sistema vai lá pra acabar com aquilo. Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, dentro das periferias. Muita cultura, muita disposição e muito amor próprio se desenvolvendo e eu acho que isso é fundamental. Porque o sentimento de inferioridade ele inibe qualquer tipo de ação. Quando o cara começa a se sentir forte e percebe a braba que ele vive, e que ele resiste, que vive assim mesmo e dá risada assim mesmo, ai a coisa fica um pouco diferente. Eu acho que é uma questão de tempo.

(continua)

sábado, 17 de março de 2012

Curtas do dia



"Se alguém pudesse perceber plenamente as implicações surpreendentes dos estados de sonho e sono, não poderia se tornar ou continuar materialista, pois perceberia que existe algo dentro de si capaz de anunciar um fato de sua experiência mas que, apesar disso, está fora de sua experiência consciente. Esse fato é o sono profundo; esse “algo” é o elemento testemunha, a alma."

Paul Brunton



"A educação, por conseguinte, não é apenas uma questão de se passar nuns poucos exames, mas de se ser capaz de pensar nos problemas da vida; só assim a vossa mente não se tornará mecânica, tradicionalista; será uma mente criadora, e não vos sujeitareis apenas a ajustar-vos a sociedade, mas quebrareis todos os seus vínculos, para criardes coisas novas, fora dela - não as inovações dos socialistas, dos comunistas, dos congressistas, mas coisas completamente originais. Esta é que é a verdadeira revolução. É este, afinal de contas, o verdadeiro sentido da educação - isto é, fazer-vos crescer em liberdade e tornar-vos capazes de criar um mundo novo. Os mais velhos não criaram um mundo belo; eles encheram o mundo de desordem e confusão."

Krishnamurti - Debates sobre educação com alunos e professores em Banares Índia



"Buscai a verdade no interior da vida. Deixai a procura de comprovações para os incrédulos."

Trigueirinho



"No fim das contas, você sabe que não há pecado, não há culpa, nem retribuição, há apenas vida, nas suas transformações sem fim. Com a dissolução do 'eu' pessoal, o sofrimento pessoal desaparece. O que permanece é a grande tristeza da compaixão, o horror da dor desnecessária."

Nisargadatta Maharaj


terça-feira, 13 de março de 2012

A história da SUA Escravidão


Como todos os animais, os seres humanos querem dominar e utilizar os recursos ao seu redor. No começo, os primeiros seres humanos caçavam, pescavam e comiam do fruto da terra. Mas então, algo mágico e terrível aconteceu às nossas mentes: Viramos no meio de todos os animais, temerosos da morte e perdas futuras.

E este foi o início de uma grande tragédia, assim como de uma maior possibilidade. Quando estamos com medo de morrer, da dor e de ser prisioneiros, tornamo-nos dóceis e, portanto, valiosos. Valiosos de uma maneira que nenhúm outro recurso poderia ser.

O maior recurso que qualquer ser humano pode controlar não são os recursos naturais, ferramentas, animais ou terra, mas outros seres humanos. Você pode assustar um animal porque eles se assustam com a dor a qualquer momento. Mas você não pode assustar um animal com a perda da liberdade, a tortura ou a prisão como uma consequência futura, pois os animais têm muito pouco ou nenhum entendimento sobre o futuro.

  
Você não pode ameaçar uma vaca com tortura ou uma ovelha com a morte. Você não pode agitar uma espada na frente de uma árvore e gritar para produzir mais frutos, ou acender uma tocha para um campo de trigo para dar um melhor desempenho. Você não obtendrá mais ovos de uma galinha ameaçando-a, mas pode ameaçar e exigir que um ser humano dei seus pertences.

Este tipo de gestão ou de “cultivo humano” é o mais rentável e o seu uso o mais destrutivo na história. É por isso que está chegando a um clímax destrutivo. A sociedade humana não pode ser compreendida racionalmente até ser vista como o que é: Uma série de chácaras, onde os Proprietários são donos de “gado humano”.

Algumas pessoas estão confundidas, porque os governos proporcionam saúde e cuidados médicos, água, educação e estradas. Isso, para muitas pessoas é um sinal da benevolência do governo. Nada poderia estar mais longe da realidade.

O Proprietário do terreno permite a irrigação e presta cuidados médicos e da formação ou preparação para o seu “gado humano”. Muitas pessoas se confundem, porque podemos ter alguma liberdade e, portanto, imaginam que os nossos governos querem proteger essas e outras liberdades. Mas os proprietários plantam a uma certa distância para aumentar a produção e permitir que alguns animais usem partes maiores de suas terras, se isso significa que eles produzem mais carne ou leite.

No seu país, o seu Proprietário lhe permite algumas liberdades. Ele faz isso não porque se importa com que você tenha essas liberdades, mas porque ele está interessado em aumentar seus lucros. Você pode começar a ver a origem da jaula em que você nasceu?

Houve quatro fases principais de “agricultura humana”. A primeira fase, no antigo Egito, foi caracterizado pela direta e brutal coerção humana. O corpo humano foi controlado, mas a produtividade criativa da mente humana se manteve longe da marca do chicote e as correntes. Os escravos não eram muito produtivos e era necessária uma enorme quantidade de recursos para mantê-los sob controle. A segunda fase foi o modelo romano, onde os escravos foram dados um pouco de liberdade, o engenho e criatividade, aumentou assim a produtividade.

Esse aumento da produtividade criou mais riqueza para o governo romano. Com esta riqueza adicional foi que Roma se tornou um império, que então destruiu as liberdades económicas que levaram ao seu poder e como consequência o império colapsou.

Certamente, esta situação não é totalmente estranha hoje.

Após o colapso de Roma, o modelo feudal introduziu o conceito de “bens humanos e tributação”. Em vez de ser diretamente possuído por um proprietário de terras, os agricultores cultivavam a terra, a qual podiam manter sempre que pagaram a sua quota aos senhores feudais locais. Este modelo finalmente desmoronou-se devido à subdivisão contínua de terras produtivas, e foi destruído durante o período em que foi limitado o acesso à propriedade privada, quando a terra foi consolidada e centenas de milhares de agricultores foram despojados dos seus bens em razão de novas técnicas de cultivo que levaram a que grandes propriedades foram mais produtivas com menos trabalhadores.

O aumento da produtividade na Idade Média criou uma abundância de comida necessária para a expansão das cidades, que deu origem ao atual modelo conhecido como o modelo democrático de “propriedade humana”. Quando os agricultores deslocados chegaram nas grandes cidades, uma grande quantidade de mão de obra barata tornou-se disponível para os industriais e latifundiários da classe alta, quem rapidamente perceberam que poderiam ganhar mais dinheiro se eles deixaram o seu “gado” para escolher suas ocupações.

Sob o modelo democrático, a posse de escravos como propriedade foi substituído pelo modelo da Máfia. A Máfia é raramente um proprietário do negócio. Em vez disso, mafiosos preferem enviar um valentão de cada mês, para roubar os proprietários da empresa. Por agora você está autorizado a escolher a sua própria ocupação, o que aumenta sua produtividade e, consequentemente, os impostos que você paga para seus proprietários.

“Apreciem este momento de suas vidas crianças, porque este é o momento de sua vida quando você ainda tem a oportunidade de escolher. E passa tão rápido.” Este é o discurso típico dos conselheiros em escolas e faculdades. “Quando você é jovem você acha que pode fazer qualquer coisa, e você pode. Os vinte anos são difíceis. Quando você chegar a trinta, você é responsável por sua família. Ganha pouco dinheiro e pensa: O que aconteceu com minha juventude? Aos 40 anos, já tem uma barriga e tem um outro queixo do gordos que estão. A música começa a parecer muito alta. Uma de suas amigas de escola torna-se uma avó. Aos 50, você passa por cirurgia, que vocês chamam de irrelevante. Aos 60, você tem uma cirurgia muito mais grave. A música ainda parece estar muito alta, mas isso não importa, porque você já não pode ouvir mais. Aos 70 anos, você e sua esposa -já pensionistas- começam a jantar às duas da tarde, almoçam às 10 da manhã bebem café da manhã no dia anterior. Em seguida, passam o resto do tempo caminhando pelas ruas ou nos shoppings pensando porque é que os filhos não ligam? Aos 80, você sofre um derrame e termina como um vegetal sendo cuidado por uma enfermeira que vocês chamam de mãe.

Suas poucas liberdades são mantidas porque são um benefício econômico para seus proprietários. O grande enigma do modelo democrático é que o aumento da riqueza ameaça o Proprietário. A classe é beneficiada ao dispor de um mercado relativamente livre de capital e trabalho, mas uma vez que o “gado” percebe as suas liberdades, e transformar essas liberdades em riqueza, eles começam a se perguntar porque precisam dos seus Proprietários ? Bem, ninguém nunca disse ser um Proprietário de ”propriedade humana” seria fácil.

Manter o “gado humano” na posse do proprietário, no terreno da classe alta é um processo dividido em três fases. O primeiro é doutrinar os jovens através da “educação” e o “sistema de ensino” do governo. Uma vez que a riqueza cresceu nos países democráticos, as escolas financiadas pelo governo eram universalmente imposta para controlar os pensamentos e as almas do “gado humano”. A segunda fase é a de transformar os cidadãos uns contra os outros através da criação de uma sociedade dependente. É muito difícil controlar os humanos com o uso da força e, se possível, torna-se improdutivo.

Seres humanos não se reproduzem ou são eficazes quando estão em cativeiro. Mas se os seres humanos pensam que são livres, em seguida, produzem mais para seus proprietários. A melhor maneira de manter esta ilusão da liberdade é colocando parte do “gado” em posições de poder nas organizações que são propriedade do Proprietário. O “gado” que passa a depender da hierarquia existente automaticamente ataca o “gado” que revela e denuncia a corrupção, a violência, a hipocrisia e a imoralidade do Proprietário e o sistema de “propriedade humana”.

A liberdade é escravidão e escravidão é liberdade.

Se os Proprietários conseguem que parte do “gado” ataque a outra parte sempre que alguém está relatando a realidade de uma situação, não é necessário gastar tanto tempo e recursos em controle direto. Este “gado” que passa a depender dos recursos fornecidos pelo Proprietário, violentamente se opõem a qualquer questionamento sobre a “propriedade humana” e as classes intelectuais e artísticas, sempre e eternamente dependente dos donos vão dizer a quem alega liberdade: “Você está prejudicando os seus compatriotas”.

O “gado” é, então, mantido em jaulas mudando o sentido de responsabilidade moral sempre que é necessário para manter a natureza destrutiva do sistema contra a “violência” de aqueles que exigem a verdadeira liberdade.

A terceira fase é continuamente inventando ameaças externas, de modo que o “gado” fique com medo e procure a protecção dos Proprietários. Este sistema de “propriedade humano” está chegando ao fim. A terrível tragédia dos sistemas econômicos do mundo moderno ocidental não ocorreram devido a, mas como uma consequência dos sistemas económicos utilizados no passado e as suas liberdades falsas. O aumento excessivo da riqueza no mundo ocidental através do século 19, foi o resultado dessas políticas econômicas e foi exatamente o aumento desenfreado da riqueza por meio de sistemas como o Sistema Bancário Fracionário, o que alimentou e elevou o poder do Estado.

Quando o “gado humano” torna-se exponencialmente produtivo, isso resulta em um aumento proporcional no número de Proprietários e dos que dependem deles. O crescimento do Estado é sempre proporcional as condições económicas passadas. Estas condições econômicas baseadas na dívida, criam riqueza e essa riqueza atrai ladrões políticos e parasitas, cujo egoísmo destrói qualquer situação econômica, boa ou ma. Em outras palavras, o sistema de falsa liberdade econômica se torna no câncer do Estado.

O Governo que começa pequeno, sempre acaba maior. É por isso que não há alternativa viável e sustentável para uma sociedade verdadeiramente livre e pacífica. Uma sociedade sem donos e sem “propriedade humana”, sem a violência de leis fiscais e do estatismo. Ser livre, verdadeiramente livre é muito fácil e muito difícil ao mesmo tempo. Evitamos o horror de nossa escravidão, porque é muito doloroso vê-lo cara a cara. Nós dançamos em torno a violência do nosso sistema porque temos medo que as outras pessoas nos ataquem.

Mas só podemos ser presos em jaulas que nos recusamos a ver e reconhecer.

 
Acorde! Ver e reconhecer a jaula, vai permiti-lhe sair dela!

A dieta do suco de limão




Pela manhã, gosto de caminhar até uma das padarias do bairro, onde tomo um bom café, seguido de uma garrafa de água bem gelada, enquanto desfruto da leitura de algum livro aleatoriamente escolhido para o dia. Levo comigo um pequeno caderno onde costumo anotar os pequenos insights que se apresentam durante a meditação livresca. Essa é uma oportunidade que tenho de fazer um balanço entre o modo operante que me é apresentado através das futilidades das eufóricas conversas de balcão e o poderoso e transformador silêncio emanado da essência das palavras contidas nas entrelinhas dos livros destes homens e mulheres que sempre estiveram a remar contra a maré da milenar mediocridade coletiva.

Num determinado momento da leitura, aproximou-se um obeso rapaz, que há alguns dias vem bebendo uma grande quantidades de limões, que, segundo ele, fazem parte de um tratamento que retirou de um livro para fazer uma "limpeza interior". Nosso contato nunca passou daquele social "tudo bem?", mas, naquele dia pude perceber sua curiosidade com relação ao meu modo de ser, às minhas leituras matinais e também quanto às anotações. Para minha surpresa, meio vacilante, acabou saindo de seu canto do balcão, vindo em direção à mesa e perguntando:

— Você está escrevendo um livro?

— Mais ou menos isso... — respondi deixando um hiato de silêncio no ar o qual deu origem àquele olhar de "quero mais" em relação a resposta. Ele continuou ali à espera de uma resposta mais conclusiva. Ao perceber seu interesse, respondi:

— Estou me reescrevendo, página por página, na esperança de num dia destes, quem sabe, possa ser tocado por meu autor.

Pelo sorriso, tive a impressão de que ele não compreendeu o espírito da fala. Fez então um breve aceno, voltou-se para o balcão em direção ao suco de limão, o qual bebeu num só gole, fazendo com certeza, um enorme esforço para disfarçar dos presentes, a acentuada acidez que tomava sua garganta e estômago.

Alimentar em nós aquilo que não faz parte de nossa real natureza é uma manifestação de vaidade e, portanto, um produto do domínio do ego. Quando estamos sobre a poderosa influência do ego, toda forma de auto-agressão, seja física ou emocional, por falta de inteligência, é possível de ocorrência. A preocupação com a manutenção da imagem da criada identidade pessoal, impede a revelação da natural e impessoal alteridade. Quando se é prisioneiro dos domínios do ego, facilmente se é sugestionável às influências do ego social.

Uma existência dominada pelo ego é uma existência sem propriedade, sem originalidade, sem autenticidade e, portanto, só pode produzir imitação, ainda que levemente modificada pelo temperamento, tendências e índole pessoal. Como uma existência dominada pelo ego tem sempre seu olhar voltado para o exterior, não há como se conhecer nada que seja original, nada que venha da fonte da vida, fonte esta que só pode ser percebida, sentida, quando desligados de toda forma de influência externa que não seja uma original expressão da vida. Quando, em meditação, nos voltamos para nossa realidade interior, descobrimos a presença de uma Mente e Coração Sútil, através dos quais, a originalidade do não manifesto, pode ser fazer manifesto.

Nelson Jonas

Não fuja da dor



"Quando quer que haja um encontro, não fuja dele. Esteja com ele. Será assustador no princípio; é propenso a ser. Quando quer que o desconhecido seja encontrado, o medo se cria, porque para nós o desconhecido é a morte. Assim, quando quer que haja um vazio, você sentirá a morte vindo para você. Então morra (psicologicamente)! Apenas esteja nela e morra (psicologicamente) completamente no vazio. E você será ressuscitado. Você está vivo pela primeira vez, realmente vivo."
Osho - Psicologia do Esotérico

"Todos nós estamos colhidos nas malhas do sofrimento e do conflito, mas a maioria dos indivíduos não está consciente desse conflito porque vive a procurar substituições, soluções e refúgios. Se, entretanto, deixarem de procurar refúgio e começarem a interrogar o ambiente, que é a causa do conflito, tornar-se-á, então, a mente penetrante, ativa, inteligente. Nessa intensidade a mente se torna inteligente e capaz, portanto, de discernir o exato valor e significado do ambiente, causador do conflito... se estiverdes em conflito, é claro que deveis interrogar o ambiente, mas a mente da maioria já de tal modo se desvirtuou que não percebe que está à cata de soluções e meios de fuga, com maravilhosas teorias. É perfeito o seu raciocinar, porém, baseado, embora inconsciente, no desejo de fuga... Se há, pois, conflito e desejais descobrir-lhe a causa, deixai que a mente descubra pela intensidade do pensamento e, interrogando tudo o que o ambiente põe em torno de vós – vossa família, vossos semelhantes, vossas religiões, vossas autoridades políticas; no interrogar haverá ação contra o ambiente. Tendes a família, o semelhante, o Estado, e, interrogando o significado dessas coisas, vereis como é espontânea a inteligência, que ela não é coisa que se adquire ou cultive. Lançada a semente do percebimento, nasce a flor da inteligência".
Krishnamurti – Ojai, Califórnia - 1934 - Do livro: A Luta do Homem

"Nossa vida é um campo de batalha, da hora de nascermos à hora da morte; é agonia, desespero, sentimento de "culpa", medo, competição incessante, comparação de nós mesmos com outros, esforço para sermos mais e cada vez mais, esforço para controlar-nos, libertar-nos, alcançar novos alvos, conservar o que conquistamos. Nossa vida diária, a cotidiana rotina de nossa existência, é competição, brutalidade, agonia, desespero; solidão; uma constante aflição que não conseguimos resolver, e portanto, tentamos afastar de nós. Tal é o fato, o que realmente é, e nunca fomos capazes de transcendê-lo. Temos uma verdadeira rede de "vias de fuga": campo de futebol, igrejas, religião organizada, museus e concertos e, naturalmente, também a investigação intelectual, que não leva a parte alguma. Tal é a nossa vida, mas isso, evidentemente, não é viver. O viver implica um estado mental inteiramente livre de conflito; livre de todo e qualquer conflito - viver!
Krishnamurti - A Essência da Maturidade - ICK

"Podemos individualmente, ficar cônscios de nossa confusão, nossa própria agitação, e "viver com ela", compreendê-la, sem procurarmos livrar-nos dela, afastá-la, fugir dela? Enquanto ficarmos a dar-lhe pontapés, condená-la, fugi-la, essa própria condenação, essa própria fuga constitui o "processo" de confusão. E, ao meu ver nenhum analista pode resolver este problema. Poderá ajudar-vos temporariamente a acomodar-vos a certo padrão social, a que ele chama "existência normal", mas o problema é muito mais profundo e ninguém, senão vós mesmo, pode resolvê-lo. Vós e eu fizemos esta sociedade; ela é o resultado de nossas ações, nossos pensamentos, do nosso próprio existir, e enquanto ficarmos meramente a procurar reformar o produto, sem compreensão da entidade que o produziu, teremos mais doenças, mais caos, e mais delinqüência. A compreensão do "ego" produz a sabedoria e a ação correta."
Krishnamurti - Realização sem Esforço

"Há muitas variedades, complicações e graus de sofrimentos. Todos nós sabemos disso. Conhecemos isso muito bem, carregamos esse fardo ao longo da vida, praticamente a partir do momento que nascemos até o momento de caímos na sepultura... Se dissermos que isso é inevitável, então não existe nenhuma resposta, se você o aceita isso, parou investigar. Você fechou a porta a novas questões, e se foge disso, também fecha a porta. Você pode fugir disso arranjando um homem ou uma mulher, pela bebida, nas diversões, nas variadas formas de poder, posição, prestígio, e internamente tagarelando sobre nada. Desta forma suas fugas tornam importantíssimas, seus objetivos assumem desmedida importância. Assim você procura parar de sofrer, é o que fazemos a maioria de nós. Agora, podemos parar com qualquer forma de fuga e enfrentarmos o sofrimento? Isso significa não procurarmos uma solução para o sofrimento. Há sofrimento físico - uma dor de dente, dor de barriga, uma cirurgia, acidentes, diversas formas de sofrimentos físicos, a que damos a resposta apropriada. Existe também o medo da dor futura que poderia causar sofrimento. O sofrimento está intimamente relacionado com o medo e, sem a compreensão destes dois fatores importantes na vida, jamais compreenderemos o que é ter compaixão, o que é amor. Assim mente que está preocupada com a compreensão do que é compaixão, amor, e tudo o mais, deve certamente compreender o que é o medo e o que é o sofrimento".
Krishnamurti – O Livro da Vida

"Sofrimento é o resultado de um atrito, é a perturbação temporária da mente que se firmou na rotina que aceitou da vida. Algo acontece – uma morte, a perda do emprego, a duvida da crença nutrida – e a mente fica perturbada. Mas o que faz uma mente perturbada? Ela encontra uma maneira de ser não perturbada novamente, busca refúgio em outra crença, em um trabalho mais seguro, em um novo relacionamento. Mais uma vez uma onda de vida vem e quebra suas garantias, mas a mente novamente logo acha mais defesa e assim por diante. Isto não é uma forma de inteligência, é? Nenhum tipo de compulsão externa ou interna vai ajudar. Certo? Toda compulsão, embora sutil, é o resultado da ignorância, que nasce do desejo de recompensa ou o medo do castigo. Compreender a natureza inteira dessa armadilha é estar livre dela, ninguém, nenhum sistema, nenhuma crença pode torná-lo livre. A verdade disso é o único fator libertador – mas você tem que ver isso por você mesmo, e não apenas ser convencido. Você tem que fazer a viagem por esse mar desconhecido."
Krishnamurti – O Livro da Vida

"Como você encara o sofrimento? Receio que a maioria de nós o veja muito superficialmente. Nossa educação, nossa instrução, nosso conhecimento, as influências sociológicas a que somos expostos, tudo nos faz superficial. Uma mente superficial é a que foge para a igreja, para alguma conclusão, conceito, alguma convicção ou idéia. Todos estes são refúgios da mente superficial que sofre. E se você não puder encontrar um refúgio, você constrói uma parede ao redor de si e torna-se cínico, duro, indiferente ou você foge com alguma reação superficial, neurótica. Todas estas defesas contra sofrimento previnem novas investidas. Por favor, observe sua própria mente, observe como você explica seu sofrimento, aplica-se ao trabalho, às idéias, ou adere a uma crença em Deus ou na vida futura. E se nenhuma explicação, nenhuma opinião for satisfatória, você foge através da bebida, através do sexo, ou torna-se duro, cínico, amargo ... Geração após geração ele foi passado de pai a filho e a mente superficial nunca examina essa ferida, não a conhece realmente, não é familiarizada com o sofrimento. Apenas tem uma idéia sobre o sofrer. Tem uma imagem, um símbolo do sofrimento, mas nunca enfrenta o sofrer, encara somente a palavra sofrimento... se realmente pudéssemos compreender o sofrimento e libertar-nos totalmente dele, porque então não haveria frustração, nem ilusão, nenhuma ansiedade, nem medo, o cérebro funcionaria clara, aguda e logicamente. E talvez, depois, conhecêssemos o que é o amor”."
Krishnamurti – O Livro da Vida

"O que é o sofrimento?... O que significa isso? O que é que está sofrendo? Não pergunto: por que é que existe sofrimento, qual é a sua causa, mas o que é acontece de fato. Não sei se vocês notam a diferença. Estou simplesmente atento ao sofrimento, não como algo separado de mim, não como um observador que assiste ao sofrimento – ele é parte de mim, quero dizer, todo o "meu ser" está sofrendo. Então posso seguir seu movimento, e ver onde ele me leva. Seguramente se faço assim, ele se revela, não? Então eu noto que coloquei ênfase no "eu" – não na pessoa a quem eu amo. Ela me fazia esquecer minha miséria, minha solidão, minha desgraça. Como não sou coisa alguma, esperei que nela pudesse ser. E ela se foi, estou abandonado, perdido, estou só. Sem ela não sou nada. Então eu choro. Não porque ela se foi, mas porque fui abandonado. Estou só ... Há inúmeras pessoas para me ajudarem a fugir – milhares de pessoas chamadas de religiosas, com as suas crenças e dogmas, esperanças e fantasias – "é o "karma", é a vontade de Deus" – você sabe, todos distribuindo soluções nas fugas. Mas se eu pudesse ficar com isto e não afastar isto para longe, não tentando racionalizar ou negar isto, o que acontece? Qual é o estado de minha mente quando está seguindo o movimento do sofrimento?"... E se você for passo a passo, notará que existe um fim no sofrimento – um final real, não só um final verbal, não, o final superficial que vem por fuga, por identificação com um conceito, ou compromisso com uma idéia. Então você notará que nada existe onde se proteger, porque a mente está completamente vazia, já não está reagindo, no sentido de tentar preencher esse vazio, então, todo sofrimento terá chegado ao fim, e terá início outra viagem – uma viagem que não tem fim e nem começo. Existe uma imensidão que está além de toda medida, mas você não pode entrar neste mundo sem a eliminação total do sofrimento.”
Krishnamurti – O Livro da Vida

"O descontentamento não é essencial? Não é para ser sufocado, é para ser encorajado, investigado, e sondado de modo que com a compreensão do que é, venha a satisfação. Esse contentamento não é uma satisfação que é produzida por um sistema de pensamento, mas é um contentamento que vem com a compreensão do que é. Aquela satisfação que não é o produto da mente – a mente perturbada, agitada, incompleta que quando está buscando a paz, está buscando uma forma de fuga do que é. E assim a mente, seja pela justificação, comparação, julgamento, tenta alterar o que é, e espera chegar a um estado em que não seja perturbada, quando então será pacífica e serena. E quando a mente está perturbada pelas condições sociais, pobreza, fome, degradação, pela terrível miséria, vendo tudo isso, que ela deseja alterar, e torna-se mais presa na forma de alterar, no sistema de alteração. Mas, se a mente é capaz de olhar para o que é, sem comparação, sem julgamento, sem o desejo de alterá-lo em qualquer outra coisa, então você vai ver que surge uma espécie de satisfação, que não é da mente. O contentamento, que é produto da mente é uma fuga. É estéril. É coisa morta. Mas existe uma satisfação que não é da mente, que acontece quando existe compreensão do que é, quando existe então uma profunda revolução que afeta a sociedade e a relações individuais."
Krihnamurti - O Livro da Vida

"Uma das causas de sofrimento é o extraordinário isolamento do homem. Você pode ter os companheiros, você pode ter deuses, você pode ter muito conhecimento, você pode ser extraordinariamente ativo socialmente, falando fofocas intermináveis sobre política – e a maioria dos políticos são fofoqueiros – e ainda este isolamento permanece. Então, o homem procura achar um sentido para a vida e inventa um sentido, um significado. Mas este isolamento ainda permanece. Assim você pode olhar para isto sem qualquer comparação, simplesmente ver isto como é, sem tentar fugir disto, sem tentar esconder isso, ou escapar disto? Aí você verá aquele isolamento tornar-se algo completamente diferente! Nós não estamos sós. Nós somos o resultado de mil influências, mil condicionamentos, heranças psicológicas, propaganda, cultura. Nós não estamos sós, e portanto somos seres humanos de segunda mão! Quando a pessoa está só, totalmente só (psicologicamente), não pertence a nenhuma família, embora tendo uma família, não pertence a nenhuma nação, a nenhuma cultura, não tem nenhum compromisso particular, existe a sensação de ser estranho – estranho a qualquer padrão de pensamento, ação, família, nação. E somente quando a pessoa está completamente só (psicologicamente) é que é inocente. E é esta a inocência que liberta a mente do sofrimento... Uma mente que se encontra emaranhada no falso, nunca pode encontrar a verdade. Portanto, devo compreender aquilo que é falso nas minhas relações, nas minha idéias, nas coisas sobre mim, porque perceber a verdade exige a compreensão disso. Sem remover as causas da ignorância, não pode haver esclarecimento; e buscar o esclarecimento quando a mente não está esclarecida, absolutamente vazia é sem sentido. Conseqüentemente, devo começar a descobrir aquilo que é falso nas minhas relações com as idéias, com as pessoas, com as coisas. Quando a mente percebe o que é falso, então aquilo que é real se manifesta e então há o êxtase, há felicidade.
Krishnamurti - O Livro da Vida

"A realidade é apenas para aqueles que não podem suportar o sonho.” (Jacques Lacan) Esta é uma idéia interessante. Parece até coisa de poeta, mas não é. Para quem não sabe, J. Lacan não é um poeta, mas um dos estudiosos mais importantes da Psicanálise em todos os tempos. E é uma grande verdade. É do hábito refugiarmos na realidade coletiva para fugirmos de nós mesmos. Isso nos transmite segurança e nos desobriga de maiores responsabilidades. A fuga, portanto, ao contrário do que acreditamos, está na realidade, não no sonho. Faz parte do costumeiro nossa adaptação à comodidade, ao lugar-comum, às coisas seguras, que já foram mastigadas e digeridas pela coletividade. A essência de cada indivíduo é insuportavelmente única. E nada nos incomoda tanto quanto a unicidade. Por isso criamos coisas como o tal do bom senso. O bom senso nivela e estabelece o padrão. Através dele, o máximo que conseguimos é fazer o que todos fazem ou já fizeram. Isso não é evolução. Evolução requer ousadia e capacidade de criação, inovação e quebra de paradigmas. Bom senso não é condizente com criatividade. Pessoas que só se deixam guiar pelo bom senso são sempre insossas, triviais, ordeiras e uniformes. Mulheres de bom senso são amantes ruins, nem quentes nem frias, apenas enfadonhas. Claro que precisamos saber diferenciar a ousadia da burrice, mas isso depende de inteligência, não de bom senso. A Filosofia Cartesiana diz que a virtude mora no meio. Mas o meio é relativo, subjetivo, e só pode ser encontrado e mantido pelo uso permanente da razão. E diante da luz da razão, bom senso é só mais um argumento que utilizamos na tentativa de justificarmos nossa apatia mental."
Afonso - Guaxupé - MG

"Não há nada mais insuportável para o homem do que estar completamente ocioso, sem paixões, ocupações, diversões ou leitura. Ele sente que não é nada; é só, inadequado, dependente, impotente e vazio. E na mesma hora brota do fundo de seu coração o tédio, o desanimo, a tristeza, a raiva, o desespero, a aflição... A grandeza do homem repousa na consciência de ser miserável. Uma vez reconhecido o vazio interior, cria-se um vácuo em que Deus pode entrar. Esse abismo infinito só pode ser preenchido por algo infinito e imutável, ou seja "Deus".
Pascal

"Para moldar um quadro real de quanto a nossa vida está moldada pelo tédio, teremos de examinar seus efeitos secundários - todas as maneiras de gastarmos nossa energia tentando escapar desse mostro que juramos não estar atrás de nós. A fuga frenética (e as estratégias de que lançamos mão para evitar o vazio) nos dá uma indicação real de quanto tememos o que os monges cristãos chamavam de "demônio do meio-dia". Que preço pagamos para manter uma auto-imagem falsa de robustos extrovertidos que "nunca se aborreceram", que "estão acima de tudo isso"! Quanto nos custa realmente negar nosso tédio? Quando começamos a perceber o quanto nos custam os esforços "normais" que fazemos para fugir do vazio de significado de nossa vida, fica claro que chegou a hora de tirar a doença do armário... Fugir do tédio e da depressão é perder tempo. Entregue-se. Vá fundo. Estude sua enfermidade e ela o levará à saúde. A consciência do tédio é a porta de saída para a jornada do herói!
Sam Keen - A Fronteira Interior - Ed. Saraiva



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Queridos em primeiro lugar eu me considero um intelectual outsider , coisa aqui rara no Brasil , não pertenço a nenhum partido, não pertenço a nenhum grupo inclusive a nenhum grupo de intelectuais não respondo a nenhum credo , não participo de qualquer militância . ( Milton Santos . )

Meus escritos são para aqueles que desejam receber a verdade, num estado de mente simples e infantil, pois eles possuirão o reino de Deus. Escrevi unicamente para aqueles que buscam; para os astutos e expertos, nada tenho a dizer...
Agrada ao Supremo revelar seus segredos através do tolo, olhado pelo mundo como sendo um nada; percebe-se que seu conhecimento não procede destes tolos, mas Dele. Portanto, peço que considerem meus escritos como sendo os de uma criança a quem o Supremo manifestou Seu poder. Há tanto dentro deles, que nenhum tipo ou quantidade de argumentação ou raciocínio pode compreender ou alcançar; mas para os iluminados pelo Espírito, sua compreensão é fácil, e não passa de uma brincadeira de criança. – Boehme

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