Apesar da sofisticação tecnológica/material, o homem funciona numa repetição mecânica, dentro do modelo de vida herdado da cultura parental/social. Ao se permitir isso, dá continuidade a esse limitante modo de existir, pautado na busca de conveniências, que por sua vez, sustentam as mais variadas formas de auto-engano. Isso porque, ao homem, em sua infância, não ouve o incentivo para o livre questionar. Ao contrário, o homem foi sistematicamente incentivado para aparentar ordem em meio da desordem. Se ele é capaz de aparentar ordem em meio da desordem, em seu meio, conquista a respeitabilidade, se tornando uma autoridade, sem perceber que, por meio dessa respeitabilidade, instala-se a estagnação. Se o homem é capaz de aparentar ordem em meio da desordem, passa então a ser visto como uma "pessoa responsável" e, por ser responsável, lhe é facilitado a aquisição de transitoriedades que criam a ilusão de sucesso, através da qual se aprisiona cada vez mais ao embrutecido padrão socialmente estabelecido.
Então, para proteger suas transitoriedades conquistadas, tão importantes para a manutenção de sua respeitabilidade dentro do grupo a que pertence, o homem elege autoridades, através de pessoas que também aparentam ordem em meio da desordem e, ao fazer isso, dessas autoridades torna-se silencioso, ajustado, e domesticado mantenedor, delas dependentes. E, sem que se perceba, com o passar dos anos, cada vez mais a vida escapa de suas mãos. Ao se permitir isso, o homem abre mão de sua individualidade, aceitando pagar caro para se ver, feito boi amansado e devidamente registrado, como parte do assustado gado, aprisionado dentro do intrincado curral social.
Desse modo, a repetição do conhecimento do passado, sempre projetado na idéia de futura segurança, rouba do homem a possibilidade de abertura para o estado de insegurança criativa do presente, insegurança essa que parece ser a única forma possível de real segurança e verdadeira ordem.
Nelson Jonas
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