"Quando quer que haja um encontro, não fuja dele. Esteja com ele. Será assustador no princípio; é propenso a ser. Quando quer que o desconhecido seja encontrado, o medo se cria, porque para nós o desconhecido é a morte. Assim, quando quer que haja um vazio, você sentirá a morte vindo para você. Então morra (psicologicamente)! Apenas esteja nela e morra (psicologicamente) completamente no vazio. E você será ressuscitado. Você está vivo pela primeira vez, realmente vivo."
Osho - Psicologia do Esotérico
"Todos nós estamos colhidos nas malhas do sofrimento e do conflito, mas a maioria dos indivíduos não está consciente desse conflito porque vive a procurar substituições, soluções e refúgios. Se, entretanto, deixarem de procurar refúgio e começarem a interrogar o ambiente, que é a causa do conflito, tornar-se-á, então, a mente penetrante, ativa, inteligente. Nessa intensidade a mente se torna inteligente e capaz, portanto, de discernir o exato valor e significado do ambiente, causador do conflito... se estiverdes em conflito, é claro que deveis interrogar o ambiente, mas a mente da maioria já de tal modo se desvirtuou que não percebe que está à cata de soluções e meios de fuga, com maravilhosas teorias. É perfeito o seu raciocinar, porém, baseado, embora inconsciente, no desejo de fuga... Se há, pois, conflito e desejais descobrir-lhe a causa, deixai que a mente descubra pela intensidade do pensamento e, interrogando tudo o que o ambiente põe em torno de vós – vossa família, vossos semelhantes, vossas religiões, vossas autoridades políticas; no interrogar haverá ação contra o ambiente. Tendes a família, o semelhante, o Estado, e, interrogando o significado dessas coisas, vereis como é espontânea a inteligência, que ela não é coisa que se adquire ou cultive. Lançada a semente do percebimento, nasce a flor da inteligência".
Krishnamurti – Ojai, Califórnia - 1934 - Do livro: A Luta do Homem
"Nossa vida é um campo de batalha, da hora de nascermos à hora da morte; é agonia, desespero, sentimento de "culpa", medo, competição incessante, comparação de nós mesmos com outros, esforço para sermos mais e cada vez mais, esforço para controlar-nos, libertar-nos, alcançar novos alvos, conservar o que conquistamos. Nossa vida diária, a cotidiana rotina de nossa existência, é competição, brutalidade, agonia, desespero; solidão; uma constante aflição que não conseguimos resolver, e portanto, tentamos afastar de nós. Tal é o fato, o que realmente é, e nunca fomos capazes de transcendê-lo. Temos uma verdadeira rede de "vias de fuga": campo de futebol, igrejas, religião organizada, museus e concertos e, naturalmente, também a investigação intelectual, que não leva a parte alguma. Tal é a nossa vida, mas isso, evidentemente, não é viver. O viver implica um estado mental inteiramente livre de conflito; livre de todo e qualquer conflito - viver!
Krishnamurti - A Essência da Maturidade - ICK
"Podemos individualmente, ficar cônscios de nossa confusão, nossa própria agitação, e "viver com ela", compreendê-la, sem procurarmos livrar-nos dela, afastá-la, fugir dela? Enquanto ficarmos a dar-lhe pontapés, condená-la, fugi-la, essa própria condenação, essa própria fuga constitui o "processo" de confusão. E, ao meu ver nenhum analista pode resolver este problema. Poderá ajudar-vos temporariamente a acomodar-vos a certo padrão social, a que ele chama "existência normal", mas o problema é muito mais profundo e ninguém, senão vós mesmo, pode resolvê-lo. Vós e eu fizemos esta sociedade; ela é o resultado de nossas ações, nossos pensamentos, do nosso próprio existir, e enquanto ficarmos meramente a procurar reformar o produto, sem compreensão da entidade que o produziu, teremos mais doenças, mais caos, e mais delinqüência. A compreensão do "ego" produz a sabedoria e a ação correta."
Krishnamurti - Realização sem Esforço
"Há muitas variedades, complicações e graus de sofrimentos. Todos nós sabemos disso. Conhecemos isso muito bem, carregamos esse fardo ao longo da vida, praticamente a partir do momento que nascemos até o momento de caímos na sepultura... Se dissermos que isso é inevitável, então não existe nenhuma resposta, se você o aceita isso, parou investigar. Você fechou a porta a novas questões, e se foge disso, também fecha a porta. Você pode fugir disso arranjando um homem ou uma mulher, pela bebida, nas diversões, nas variadas formas de poder, posição, prestígio, e internamente tagarelando sobre nada. Desta forma suas fugas tornam importantíssimas, seus objetivos assumem desmedida importância. Assim você procura parar de sofrer, é o que fazemos a maioria de nós. Agora, podemos parar com qualquer forma de fuga e enfrentarmos o sofrimento? Isso significa não procurarmos uma solução para o sofrimento. Há sofrimento físico - uma dor de dente, dor de barriga, uma cirurgia, acidentes, diversas formas de sofrimentos físicos, a que damos a resposta apropriada. Existe também o medo da dor futura que poderia causar sofrimento. O sofrimento está intimamente relacionado com o medo e, sem a compreensão destes dois fatores importantes na vida, jamais compreenderemos o que é ter compaixão, o que é amor. Assim mente que está preocupada com a compreensão do que é compaixão, amor, e tudo o mais, deve certamente compreender o que é o medo e o que é o sofrimento".
Krishnamurti – O Livro da Vida
"Sofrimento é o resultado de um atrito, é a perturbação temporária da mente que se firmou na rotina que aceitou da vida. Algo acontece – uma morte, a perda do emprego, a duvida da crença nutrida – e a mente fica perturbada. Mas o que faz uma mente perturbada? Ela encontra uma maneira de ser não perturbada novamente, busca refúgio em outra crença, em um trabalho mais seguro, em um novo relacionamento. Mais uma vez uma onda de vida vem e quebra suas garantias, mas a mente novamente logo acha mais defesa e assim por diante. Isto não é uma forma de inteligência, é? Nenhum tipo de compulsão externa ou interna vai ajudar. Certo? Toda compulsão, embora sutil, é o resultado da ignorância, que nasce do desejo de recompensa ou o medo do castigo. Compreender a natureza inteira dessa armadilha é estar livre dela, ninguém, nenhum sistema, nenhuma crença pode torná-lo livre. A verdade disso é o único fator libertador – mas você tem que ver isso por você mesmo, e não apenas ser convencido. Você tem que fazer a viagem por esse mar desconhecido."
Krishnamurti – O Livro da Vida
"Como você encara o sofrimento? Receio que a maioria de nós o veja muito superficialmente. Nossa educação, nossa instrução, nosso conhecimento, as influências sociológicas a que somos expostos, tudo nos faz superficial. Uma mente superficial é a que foge para a igreja, para alguma conclusão, conceito, alguma convicção ou idéia. Todos estes são refúgios da mente superficial que sofre. E se você não puder encontrar um refúgio, você constrói uma parede ao redor de si e torna-se cínico, duro, indiferente ou você foge com alguma reação superficial, neurótica. Todas estas defesas contra sofrimento previnem novas investidas. Por favor, observe sua própria mente, observe como você explica seu sofrimento, aplica-se ao trabalho, às idéias, ou adere a uma crença em Deus ou na vida futura. E se nenhuma explicação, nenhuma opinião for satisfatória, você foge através da bebida, através do sexo, ou torna-se duro, cínico, amargo ... Geração após geração ele foi passado de pai a filho e a mente superficial nunca examina essa ferida, não a conhece realmente, não é familiarizada com o sofrimento. Apenas tem uma idéia sobre o sofrer. Tem uma imagem, um símbolo do sofrimento, mas nunca enfrenta o sofrer, encara somente a palavra sofrimento... se realmente pudéssemos compreender o sofrimento e libertar-nos totalmente dele, porque então não haveria frustração, nem ilusão, nenhuma ansiedade, nem medo, o cérebro funcionaria clara, aguda e logicamente. E talvez, depois, conhecêssemos o que é o amor”."
Krishnamurti – O Livro da Vida
"O que é o sofrimento?... O que significa isso? O que é que está sofrendo? Não pergunto: por que é que existe sofrimento, qual é a sua causa, mas o que é acontece de fato. Não sei se vocês notam a diferença. Estou simplesmente atento ao sofrimento, não como algo separado de mim, não como um observador que assiste ao sofrimento – ele é parte de mim, quero dizer, todo o "meu ser" está sofrendo. Então posso seguir seu movimento, e ver onde ele me leva. Seguramente se faço assim, ele se revela, não? Então eu noto que coloquei ênfase no "eu" – não na pessoa a quem eu amo. Ela me fazia esquecer minha miséria, minha solidão, minha desgraça. Como não sou coisa alguma, esperei que nela pudesse ser. E ela se foi, estou abandonado, perdido, estou só. Sem ela não sou nada. Então eu choro. Não porque ela se foi, mas porque fui abandonado. Estou só ... Há inúmeras pessoas para me ajudarem a fugir – milhares de pessoas chamadas de religiosas, com as suas crenças e dogmas, esperanças e fantasias – "é o "karma", é a vontade de Deus" – você sabe, todos distribuindo soluções nas fugas. Mas se eu pudesse ficar com isto e não afastar isto para longe, não tentando racionalizar ou negar isto, o que acontece? Qual é o estado de minha mente quando está seguindo o movimento do sofrimento?"... E se você for passo a passo, notará que existe um fim no sofrimento – um final real, não só um final verbal, não, o final superficial que vem por fuga, por identificação com um conceito, ou compromisso com uma idéia. Então você notará que nada existe onde se proteger, porque a mente está completamente vazia, já não está reagindo, no sentido de tentar preencher esse vazio, então, todo sofrimento terá chegado ao fim, e terá início outra viagem – uma viagem que não tem fim e nem começo. Existe uma imensidão que está além de toda medida, mas você não pode entrar neste mundo sem a eliminação total do sofrimento.”
Krishnamurti – O Livro da Vida
"O descontentamento não é essencial? Não é para ser sufocado, é para ser encorajado, investigado, e sondado de modo que com a compreensão do que é, venha a satisfação. Esse contentamento não é uma satisfação que é produzida por um sistema de pensamento, mas é um contentamento que vem com a compreensão do que é. Aquela satisfação que não é o produto da mente – a mente perturbada, agitada, incompleta que quando está buscando a paz, está buscando uma forma de fuga do que é. E assim a mente, seja pela justificação, comparação, julgamento, tenta alterar o que é, e espera chegar a um estado em que não seja perturbada, quando então será pacífica e serena. E quando a mente está perturbada pelas condições sociais, pobreza, fome, degradação, pela terrível miséria, vendo tudo isso, que ela deseja alterar, e torna-se mais presa na forma de alterar, no sistema de alteração. Mas, se a mente é capaz de olhar para o que é, sem comparação, sem julgamento, sem o desejo de alterá-lo em qualquer outra coisa, então você vai ver que surge uma espécie de satisfação, que não é da mente. O contentamento, que é produto da mente é uma fuga. É estéril. É coisa morta. Mas existe uma satisfação que não é da mente, que acontece quando existe compreensão do que é, quando existe então uma profunda revolução que afeta a sociedade e a relações individuais."
Krihnamurti - O Livro da Vida
"Uma das causas de sofrimento é o extraordinário isolamento do homem. Você pode ter os companheiros, você pode ter deuses, você pode ter muito conhecimento, você pode ser extraordinariamente ativo socialmente, falando fofocas intermináveis sobre política – e a maioria dos políticos são fofoqueiros – e ainda este isolamento permanece. Então, o homem procura achar um sentido para a vida e inventa um sentido, um significado. Mas este isolamento ainda permanece. Assim você pode olhar para isto sem qualquer comparação, simplesmente ver isto como é, sem tentar fugir disto, sem tentar esconder isso, ou escapar disto? Aí você verá aquele isolamento tornar-se algo completamente diferente! Nós não estamos sós. Nós somos o resultado de mil influências, mil condicionamentos, heranças psicológicas, propaganda, cultura. Nós não estamos sós, e portanto somos seres humanos de segunda mão! Quando a pessoa está só, totalmente só (psicologicamente), não pertence a nenhuma família, embora tendo uma família, não pertence a nenhuma nação, a nenhuma cultura, não tem nenhum compromisso particular, existe a sensação de ser estranho – estranho a qualquer padrão de pensamento, ação, família, nação. E somente quando a pessoa está completamente só (psicologicamente) é que é inocente. E é esta a inocência que liberta a mente do sofrimento... Uma mente que se encontra emaranhada no falso, nunca pode encontrar a verdade. Portanto, devo compreender aquilo que é falso nas minhas relações, nas minha idéias, nas coisas sobre mim, porque perceber a verdade exige a compreensão disso. Sem remover as causas da ignorância, não pode haver esclarecimento; e buscar o esclarecimento quando a mente não está esclarecida, absolutamente vazia é sem sentido. Conseqüentemente, devo começar a descobrir aquilo que é falso nas minhas relações com as idéias, com as pessoas, com as coisas. Quando a mente percebe o que é falso, então aquilo que é real se manifesta e então há o êxtase, há felicidade.
Krishnamurti - O Livro da Vida
"A realidade é apenas para aqueles que não podem suportar o sonho.” (Jacques Lacan) Esta é uma idéia interessante. Parece até coisa de poeta, mas não é. Para quem não sabe, J. Lacan não é um poeta, mas um dos estudiosos mais importantes da Psicanálise em todos os tempos. E é uma grande verdade. É do hábito refugiarmos na realidade coletiva para fugirmos de nós mesmos. Isso nos transmite segurança e nos desobriga de maiores responsabilidades. A fuga, portanto, ao contrário do que acreditamos, está na realidade, não no sonho. Faz parte do costumeiro nossa adaptação à comodidade, ao lugar-comum, às coisas seguras, que já foram mastigadas e digeridas pela coletividade. A essência de cada indivíduo é insuportavelmente única. E nada nos incomoda tanto quanto a unicidade. Por isso criamos coisas como o tal do bom senso. O bom senso nivela e estabelece o padrão. Através dele, o máximo que conseguimos é fazer o que todos fazem ou já fizeram. Isso não é evolução. Evolução requer ousadia e capacidade de criação, inovação e quebra de paradigmas. Bom senso não é condizente com criatividade. Pessoas que só se deixam guiar pelo bom senso são sempre insossas, triviais, ordeiras e uniformes. Mulheres de bom senso são amantes ruins, nem quentes nem frias, apenas enfadonhas. Claro que precisamos saber diferenciar a ousadia da burrice, mas isso depende de inteligência, não de bom senso. A Filosofia Cartesiana diz que a virtude mora no meio. Mas o meio é relativo, subjetivo, e só pode ser encontrado e mantido pelo uso permanente da razão. E diante da luz da razão, bom senso é só mais um argumento que utilizamos na tentativa de justificarmos nossa apatia mental."
Afonso - Guaxupé - MG
Pascal
"Para moldar um quadro real de quanto a nossa vida está moldada pelo tédio, teremos de examinar seus efeitos secundários - todas as maneiras de gastarmos nossa energia tentando escapar desse mostro que juramos não estar atrás de nós. A fuga frenética (e as estratégias de que lançamos mão para evitar o vazio) nos dá uma indicação real de quanto tememos o que os monges cristãos chamavam de "demônio do meio-dia". Que preço pagamos para manter uma auto-imagem falsa de robustos extrovertidos que "nunca se aborreceram", que "estão acima de tudo isso"! Quanto nos custa realmente negar nosso tédio? Quando começamos a perceber o quanto nos custam os esforços "normais" que fazemos para fugir do vazio de significado de nossa vida, fica claro que chegou a hora de tirar a doença do armário... Fugir do tédio e da depressão é perder tempo. Entregue-se. Vá fundo. Estude sua enfermidade e ela o levará à saúde. A consciência do tédio é a porta de saída para a jornada do herói!
Sam Keen - A Fronteira Interior - Ed. Saraiva
Nenhum comentário:
Postar um comentário