Antes o vôo da ave,
que passa e não deixa rasto,
que a passagem do animal,
que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece
e assim deve ser.
O animal, onde já não está
e por isso de nada serve,
mostra que já esteve,
o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza
porque a Natureza de ontem
não é a Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa ave, passa, e ensina-me a passar!
Fernando Pessoa
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