é a que não tem medo do ridículo.
Érico Veríssimo
Por vezes é um tanto difícil acreditar numa máxima espiritual que, anos atrás, conheci num grupo de anônimos: “O problema não está em nenhuma circunstância externa, o problema, está em nós”. No entanto, observar essa máxima espiritual, tem me poupado de uma série de antigos conflitos com aqueles com os quais mantenho contato. De fato, para se perceber como parte de um grupo, uma das exigências veladas é não fazer qualquer tipo de questionamento quanto à qualidade ou a validade de seus encontros, bem como quanto a superficialidade das abordagens que neles acontecem. Qualquer questionamento, a julgar pelas experiências vividas, sempre causa melindres, choques de instintos inflados pela ação do ego, choques estes que quando acontecem, por vezes, quase sempre se mostram irreparáveis.
Mas, me parece ser um fato que, uma vida sem profundos questionamentos só pode gerar embotamento, bitolação, preconceitos e uma ignorância sem fim que tem como resultado a enfadonha e rotineira domesticação servil. No entanto, me pergunto: como se ajustar a superficialidade, a trivialidade e a mecanicidade sustentada pela imensa parafernália tecnológica, quando, no mais fundo do ser, algo clama por maior intimidade, verdade e comprometimento? Quando estou farto de carregar minhas máscaras sociais, diante do deserto do real, torna-se difícil esconder o resultante olhar mal humorado. A questão é que, as demais pessoas não podem ser responsabilizadas por essa necessidade pessoal, necessidade essa que não é fruto da escolha, mas que é um fato operante e que não pode ser negligenciado através de qualquer tipo de fuga ou distração momentânea. Ela está aqui e clama por conteúdo emocional nutritivo.
Mas, me parece ser um fato que, uma vida sem profundos questionamentos só pode gerar embotamento, bitolação, preconceitos e uma ignorância sem fim que tem como resultado a enfadonha e rotineira domesticação servil. No entanto, me pergunto: como se ajustar a superficialidade, a trivialidade e a mecanicidade sustentada pela imensa parafernália tecnológica, quando, no mais fundo do ser, algo clama por maior intimidade, verdade e comprometimento? Quando estou farto de carregar minhas máscaras sociais, diante do deserto do real, torna-se difícil esconder o resultante olhar mal humorado. A questão é que, as demais pessoas não podem ser responsabilizadas por essa necessidade pessoal, necessidade essa que não é fruto da escolha, mas que é um fato operante e que não pode ser negligenciado através de qualquer tipo de fuga ou distração momentânea. Ela está aqui e clama por conteúdo emocional nutritivo.
O problema parece ser que, para a grande maioria da população nunca houve um profundo e impactante chacoalhar causado pela Vida. É esse chacoalhar que dá início ao processo de questionamentos e que, uma vez acolhidos com seriedade e paixão, tiram o homem do sonambulismo coletivo que mantém a ajustada, mediana e ilusória forma de existência sem vida em abundância, pautada num otimismo pollyanico superficial e na ansiosa perseguição de finalidades e metas, dentro de um imenso e influenciante universo que lhe rodeia, mas que, aos olhos daqueles que sofreram a dolorosa bem-aventurança do chacoalhar da vida, soam como trivialidades distanciadas de qualquer valor, sentido ou propósito real. Esse bem-aventurado chacoalhar da Vida apresenta um novo paradigma existencial, onde falar a respeito dos autênticos sentimentos e dos possíveis conflitos, ao contrário do modo de existir passado, podem ser abertamente discutidos. Este novo paradigma existencial, permite a capacidade de “pensar em voz alta”, contrariando o antigo e enclausurante abuso social, alimentado pela imensa massa de contentes adultos adulterados adulterantes de que, “roupa suja deve ser lavada em casa”.
O fato é que muitas vezes ainda é profundamente desgastante ficar com aquela cara de paisagem, apenas no estado de observação, no estado de testemunha, prestando atenção em como afeta a situação externa. Não é fácil se deparar com tantos preconceitos herdados da cultura parental/social, com tantas palavrórias repetições de crenças — destituídas de um mínimo senso de reflexão iluminada pela lógica e pela razão —, sem poder se deparar com um mínimo de solo fértil onde sementes da reflexão possam ser compartilhadas.
Em meio de tudo isso, solitariamente, em silêncio surge a pergunta: por que tudo isso causa afetação? Por que a constatação do presente estado de sonambulismo, da superficialidade e dos discursos de assuntos triviais que não levam a nada ainda afetam? Fácil: porque ainda não estou pronto, ainda existem traves na visão e, é por isso que tenho que me manter nesses ambientes com um olho na missa e o outro no interno padre do ego que quer bancar o antigo Deus punidor. Até o presente momento, a única opção que se apresenta, parece ser apenas, observar... Estar nos ambientes sem me ambientar — sei que soa como prepotência, arrogância e soberba espiritual — trazendo à mente e ao coração a questão: por que a escuta de assuntos triviais, na maioria das vezes repetitivos e que não levam a nada ainda causam tédio e insatisfação? Quem é esse que sente o tédio, a insatisfação e o conflito?... Fazer a pergunta e não se desfocar, entender o fragmento que critica o assunto que julga pra lá de fragmentado... Se questionar para compreender o conflito, sua causa e o porquê de ter sido causado, porque, se não existir essa compreensão, parece que sempre haverá essa forma de conflito. Então, partindo dessa afirmativa, surge a pergunta: o que é que alimenta a continuidade desse organismo "ego"? Sinto ser o "vicio" da desatenção mental, durante as constantes ocorrências a que sou exposto. Esse vicio é que causa a automática identificação, que por sua vez, rotula, julga, critica, tece a solução correta para o modo de vida do outro, tece o comportamento correto para o outro, condiciona o outro. É a falta de atenção aos movimentos internos que sempre me coloca diante do novo, com o velho olhar que impede o conhecimento da verdadeira compaixão ou do amor incondicionado. Uma vez que tenho em vista que é esse vicio da desatenção mental que causa o conflito, surge a pergunta: é possível levar esse vicio da desatenção mental ao seu termino? É possível viver num estado de atenção plena não reativa? Se é possível, o que está causando o impedimento?
Apesar de ainda não ter respostas para estas perguntas, cada vez mais percebo que a prática do silêncio é a melhor resposta, que através da prática do silêncio, melhor a percepção dos fatos, dos acontecimentos, sejam eles externos ou internos. É interessante ter, através do silêncio, a percepção de que, mesmo sem se expressar externamente, o ego adora tagarelar, ser sempre aquele que tem a última palavra, ser o dono da razão. Percebo que, a facilidade maior, bem como a atenção está sempre mais fora do que dentro; há uma profunda rapidez em perceber o externo, mas, uma negligência na percepção dos acelerados e incontáveis movimentos do “John Macclane” — o ego duro de matar. Quanto mais faço silêncio, mais percebo que toda forma de conflito parte desse “vício” da desatenção interna.
Parece-me ser um fato que o ser humano necessita de troca emocional nutricional e que, para que essa troca possa ocorrer se faz necessário um mínimo de afinidade, caso contrário, qual o sentido de nos agruparmos? Se não há a menor afinidade, que troca pode se apresentar, do que se pode comungar? A própria palavra “comungar” implica na necessidade de “um ar comum”. Se eu e você vivemos ares totalmente diferentes, se temos aspirações opostas, de que modo então, podemos juntos comungar? Se permanecermos no mundo das aparências é claro que não encontraremos nada de comum. No entanto, o que mais pode haver de comum entre nós, do que o próprio ar, o próprio Sopro? Quem é esse que tudo observa com um olhar ácido e que não consegue perceber Aquele todo amoroso que nos habita e no qual somos?
O fato é que não há o interesse em conhecer ou discutir nada disso, aliás, a maior parte parece nem ao menos estar consciente disso — as novelas que os distraem de suas novelas diárias, cuja calmaria do final feliz nunca se apresenta — parecem para eles, serem muito mais atrativas. Em vista disso me pergunto: por que então insisto tanto em manter contato com situações onde não há a menor possibilidade de comunhão, de haver um contato que aponte para um Real Encontro? Será que tenho que me conformar a pagar por um encontro semanal — durante anos — com um psicólogo qualquer para realmente ouvir e ser ouvido? Se não posso ser autêntico, o que me impele a manter a continuidade dessas situações destituídas de real encontro?... O vínculo familiar que não consigo quebrar. Mas, porque não consigo rompê-lo? Não seria a incapacidade de fazer frente à solidão que me coloca diante da própria insuficiência? Não seria o medo de me ver em total situação de abandono e desamparo emocional? Por que insisto em manter o vínculo com pessoas que hoje não tem nada de emocionalmente e mentalmente familiar? Por que insisto em manter contatos com situações que me apresentam sempre os mesmos assuntos referentes a pessoas que não conheço e que fazem parte sempre do passado? Por que insisto em manter esse laço que mais se parece com um amarrotado nó? Por que alimento essa hipocrisia que, em última análise, parte de mim mesmo? Parece ser o medo de ficar só, uma vez que por anos fui condicionado — de forma bastante egoísta — que no futuro, só a família é que cuida de nós. Se vejo isso com clareza, porque não abro mão?... O medo... É o medo da solidão, o medo do desamparo é que impede a postura de abrir mão de vez desses contatos onde não há a menor possibilidade de trocar aquilo que sinto ser necessário. É o medo que impede a coragem de fazer exatamente como pede o interior. É o medo que impede o rompimento do apego parental e é também o medo que impede o surgimento das perguntas que apontem para a natureza exata desse apego parental. É o medo que impede de ver o porquê de dar tanta importância ao que as pessoas que não comungam em nada da minha maneira de ver, de estar e se relacionar com o mundo, pensam a meu respeito, ou possam pensar com relação a minha escolha de não mais manter contato.
O fato é que, só por agora, sinto que a intimidade nutritiva não tem como ocorrer (pelo menos até aqui, ela não se manifestou). A relação fica sempre no nível do socialmente polido e aceitável. As posturas se limitam a conversação do passado, ou as especialidades, as trivialidades do cotidiano e, como não vejo sentido em alimentar esse tipo de abordagem, só assisto. Isso causa vazio, o qual tento aplacar com um copo a mais de refrigentante ou um petisco qualquer (bebida alcoólica nem pensar: poderia facilitar manifestações inconvenientes). Não vejo sentido e nem tenho a menor habilidade para manter piadinhas infantis para tentar trazer vida graciosa numa relação que, por si só, não tem vida, muito menos graça. No entanto, em meu intimo, gostaria profundamente de que, com essas pessoas, realmente pudesse haver intimidade profunda, mas, no entanto, as repetidas experiências me mostram que não há como. É dito que, insanidade, é fazer a mesma coisa esperando resultados diferentes... Se os resultado se mostram sempre superficiais e insatisfatórios, porque devo continuar a dizer sim, quando meu coração pede para dizer não?... A razão diz: isso é o que eles podem dar, para eles, isso é se relacionar... Ok! Mas, se o que recebo deles não me alimenta, então, porque devo continuar? Se estou com fome e procuro um restaurante que em seu cardápio insiste em só apresentar Coca-Cola, quando sua dispensa está cheia de alimento nutritivo (ainda que disso seus donos se mostrem inconscientes), o que devo fazer? Insistir em frequentar o mesmo restaurante e, desse modo, me manter desnutrido, ou buscar por um local realmente nutritivo? A lógica e a razão dizem ser a segunda opção. Se isso está claro, o que impede de escolher pela segunda opção, formada pelo ato de abrir mão da ilusão de segurança do conhecido e me lançar na realidade da insegurança do desconhecido? Mais uma vez, a lógica e a razão, sobre a ação do medo, afirmam que, para fazer isso seria necessário abrir mão de tudo. Então, se não é possível abrir mão de tudo, o que seria necessário para poder estar em tudo, de modo sereno, equilibrado e feliz? A razão e a lógica respondem rapidamente: só pela Graça. No agora, nada sei disso, o que sei disso é memória — essa coisa que condicionamos chamar de graça — uma idealização de bem-estar — um achismo de que com isso, num futuro, posso viver um bem estar. Creio ser mais inteligente compreender ESSE que sente a insatisfação, uma vez que, até mesmo com os mais íntimos, só consigo manter intimidade até a página dois; essa intimidade não é total, há sempre os limites, pois há sempre o temor de ser mal compreendido, de ser julgado e novamente ser deixado ao ostracismo.
Observar isso causa uma desolação... Então, olhando para esse sentimento de "desolação" vem a pergunta: onde diabos, fica a autêntica intimidade, a verdade e a troca? Pode haver verdadeira intimidade e troca se há esse medo de ser colocado ao ostracismo? É possível ficar livre desse medo que gera todo tipo de dependência de pessoas se não há a coragem de se abrir para a possibilidade de ostracismo? Será possível não tropeçar no medo da opinião dos outros? Em última análise, será possível encontrar intimidade externa, não sendo capaz de manter um intimidade com o conteúdo encontrado no próprio interior? É possível o encontro de um estado de ser que não seja afetado pela dualidade “bem e mal”?... Estas perguntas trazem consigo um sentimento de urgência de transformação interna. A transformação parece não ocorrer porque não há a seriedade de aprofundamento na solidão e no tédio, a qual talvez possa levar a uma auto-compreensão, sem a qual me parece impossível o conhecimento de uma realidade totalmente livre desse fragmento, desse fragmento pelo qual pensamos ser. Em vista disso, silêncio é a minha atual opção.
Observar isso causa uma desolação... Então, olhando para esse sentimento de "desolação" vem a pergunta: onde diabos, fica a autêntica intimidade, a verdade e a troca? Pode haver verdadeira intimidade e troca se há esse medo de ser colocado ao ostracismo? É possível ficar livre desse medo que gera todo tipo de dependência de pessoas se não há a coragem de se abrir para a possibilidade de ostracismo? Será possível não tropeçar no medo da opinião dos outros? Em última análise, será possível encontrar intimidade externa, não sendo capaz de manter um intimidade com o conteúdo encontrado no próprio interior? É possível o encontro de um estado de ser que não seja afetado pela dualidade “bem e mal”?... Estas perguntas trazem consigo um sentimento de urgência de transformação interna. A transformação parece não ocorrer porque não há a seriedade de aprofundamento na solidão e no tédio, a qual talvez possa levar a uma auto-compreensão, sem a qual me parece impossível o conhecimento de uma realidade totalmente livre desse fragmento, desse fragmento pelo qual pensamos ser. Em vista disso, silêncio é a minha atual opção.
NJRO
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