" Eu vi um poço fundo e escuro; em sua borda havia um balde amarrado em uma corda. Eu vi o balde sendo baixado para dentro do poço e, quando ele foi novamente puxado para cima e para fora da escuridão, ele estava transbordante de água clara e pura. Eu ouvi as palavras: Bem dentro de cada alma existe a pureza do Espírito. Procure sem pressa até encontrá-la e, então traga-a à tona." Eileen Caddy
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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Diminua!




Se você correr muito rápido, a própria velocidade lhe dá uma intoxicação. É por isso que há tanto vício com a velocidade. Se você dirige um carro, a mente quer ir cada vez mais rápido. Ela lhe torna intoxicado.

A velocidade segrega certas substâncias químicas no corpo e no sangue; por causa disso você gostaria de continuar pressionando o acelerador. Experimente um dia correr rápido e observe o que acontece. Chega o momento no qual a velocidade assume a direção: essa é a aceleração da velocidade.

Exatamente o oposto acontece se você diminuir. O que um Buda está fazendo sob a árvore? – diminuindo a velocidade, nada mais. O que estou continuamente ensinando a vocês? – diminuir a velocidade. Chega um ponto que não há nenhuma velocidade dentro de você, ninguém correndo. Nesse momento a consciência acontece – você se torna iluminado.

Existem dois pólos: um é velocidade; assim você está intoxicado, você fica inconsciente. O outro é nenhuma velocidade – parada total, completa, uma parada absoluta. Subitamente você se torna iluminado.

O método:
Diminua sua velocidade. Coma devagar, caminhe devagar, fale devagar, mova-se bem lentamente, e aos poucos você chegará a conhecer a beleza da inatividade, a beleza da passividade. Assim você não fica intoxicado – você está completamente atento e cônscio.
  

Osho, em "Returning to the Source"

A suave presença do Eu




A visão verdadeira — da natureza da natureza real do homem — não é uma mistura de teorias, mas sim uma tremenda experiência. Ninguém que a tenha vivido uma vez, ainda que momentaneamente, jamais a poderá esquecer e não terá sossego enquanto não encontrar o meio de repeti-la...

Aqueles que julgam uma tolice cuidar da atitude espiritual antes de atender as atividades do mundo, colocam em primeiro lugar as coisas que devem estar em segundo. Para esses, como diz a escritura hindu: "Não há paz nem neste mundo, nem no próximo"...

O desenvolvimento espiritual não tem que ser essa coisa fortuita tão frequente em nós, mas um esforço sério e firme... Todo processo depende da prática...

Quem aspira a tentar conhecer seu Super-eu deve aprender a recolher-se em sua mente como a tartaruga se recolhe em sua concha. A atenção que até agora tem estado dispersa numa sucessão de objetos externos, deve agora estar concentrada num simples foco interno...

No centro de nosso ser mora esse Eu maravilhoso, porém, para atingi-lo, temos de abrir um canal através de todas as touceiras de pensamentos que o cercam e que nos fazem prestar incessante atenção ao mundo material, tornando-o como única realidade...

Dominar a mente é dominar a si próprio. A alma que controla a maré crescente e sempre ativa dos pensamentos, pode vestir a farda de capitão e dar ordem a toda a Natureza...

Evocar o homem verdadeiro dentro de nós é evocar nossa inteligência espiritual. Quando podemos entender o que há por trás dos olhos que nos miram no espelho a cada manhã, entendemos então o mistério da vida...

Se nos detivermos a refletir com inflexível fixidez sobre o mistério que está me nós, o mistério divino no homem, ele finalmente nos confiará e revelará o seu segredo. Quando o homem começa a se perguntar o que ele é, já deu o primeiro passo num caminho que não terminará enquanto não obtiver resposta...

Enquanto esta integridade espiritual não for restaurada, o homem será sempre a vítima infeliz dos seus desejos e pensamentos contraditórios...

Embora o homem seja uno com o Poder Superior a que chamamos Deus, é certo que ele perdeu a consciência dessa unidade. E, enquanto não se esforçar para fazer meditações regulares, análises frequentes de si mesmo, orações sinceras para se desprender cada vez mais de sua vida externa, é pouco provável que recorde essa consciência divina...

Devemos transpassar com a broca da mente a crosta da atração do mundo físico e procurar descobrir a eterna realidade que a crosta oculta. Então, o segredo da vida, que tem desafiado os talentos brilhantes de homens ilustres, será descoberto e se tornará nossa jubilosa posse...

Temos estado tão absorvidos em nossos pensamentos egoístas, em nossos sentimentos pessoais e atividades físicas, que jamais procuramos fixar a consciência neste "algo" interno. Não temos tentado um instante sequer desprender-nos de nossos pensamentos, emoções ou ações. É por isso que nem mesmo de leve tocamos a questão de saber o que se passa no interior de nossa prisão de carne...

A prática da meditação, entretanto, nos possibilita os vestígios dessa "alguma coisa em nós" e descobrir o que somos na realidade. Nosso verdadeiro ser está sempre ali, mas a pressão de nossos pensamentos e a atenção contínua que prestamos às coisas exteriores através dos sentidos abafam a suave presença do Eu.


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Como encontrar o propósito da vida?



Como você encontra alguma coisa? Pondo o coração e a mente nela. Deve haver interesse e recordação constantes. Recordar o que necessita ser recordado é o segredo do êxito. Chega-se a ele mediante a seriedade... A tenacidade de propósito e a honestidade na busca o levarão a sua meta... Primeiro dê o primeiro passo. Todas as bençãos vêm de dentro. Já conhece o "eu sou". Esteja com ele todo o tempo que possa até que volte a ele espontaneamente. Não há caminho mais fácil... O último propósito é alcançar a fonte da vida e da consciência... A seriedade é a única condição para o êxito.



(...)



A verdadeira felicidade não se pode encontrar nas coisas que mudam e passam. O prazer e a dor se alternam inexoravelmente. A felicidade procede do ser. Encontre seu ser real e tudo chegará com ele... Você é o ser aqui e agora. Deixe a mente tranquila, seja consciente e desapegado e você compreenderá que permanecer alerta mas destacado, observando como os fatos vão e vêm, é um aspecto de sua verdadeira natureza.



Esteja alerta. Investigue, observe, pergunte, aprenda tudo quanto possa sobre a confusão, como funciona, qual é o efeito em você e nos demais. Vendo claramente a confusão, você se libertará dela... As reações emocionais nascidas da ignorância ou da inadvertência nunca são justificadas. Busque uma mente clara e um coração limpo. Tudo que necessita é permanecer tranquilamente alerta, investigando a natureza real de si mesmo. Este é o único caminho para a paz... Vigie seus pensamentos, sentimentos, palavras e atos. Isso clareará sua visão... Tem que ser testemunha de si mesmo, continuamente, em particular de sua mente, momento a momento, sem perder nada. Este testemunhar é essencial para a separação entre o ser e o não-ser... Os apegos estão na mente e não o deixarão até que conheça sua mente por dentro e por fora. Primeiro o começo, conheça-se a si mesmo, tudo além virá por acréscimo... Vá para seu interior e descubra o que você não é. Nada mais importa!



Sri Nisargadatta Maharaj - Eu Sou Aquilo - Ed. Advaita

Não é uma questão de luz



Se a consciência expandida fosse remédio para encarnação e solução para encrenca de karma, todo mundo já nasceria com o terceiro olho aberto e não com os dois olhos fechados. Não é questão de luz, é de vergonha na cara, mesmo. Religião só cura assassino fingindo estar arrependido, meditação não garante lavagem da alma.

Por isso nascemos pelados, para vestir consciência limpa e solidária. De que vale uma padaria recheada de pães de sabedoria, se não distribuímos prática?

Tem gente por aí, fazendo fila para sair do corpo e aprender sobre chá rãs, outros gastam uma fortuna indo para Santiago de Compustella ou para algum ashran na Índia, mas jogam Big Mac no lixo olhando gente com fome na rua. #FATO#

Espiritualidade não é recitar a Bíblia, o Baghvata Gita, ou qualquer outro “Livro Sagrado” de cor, por que isso, qualquer papagaio consegue fazer isso; Espiritualidade, é ver o “Sagrado em Tudo e Todos”.

Espiritualidade é estar presente nesse momento e não viajando na maionese do x-tudo Divino, brincando de oba-oba e blá- blá- blá.

Tem gente por aí que se entope de mantra, sabe os salmos de cor, vive no terreiro, vai a “Aparecida” toda semana, reza a Maomé cinco vezes por dia, mas é incapaz de mudar de atitude, porque vive adormecido.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Pátio dos convalescentes



Todos fazemos algum ato confirmatório diário de nossa profissão de fé. Um ato onde reafirmamos o que somos e o que queremos diariamente.
O meu é reler escritos. O que faço através deste blog.
Ainda que escrever não seja uma profissão, eu o faço com muita fé.
Por isso, considero este blog uma espécie de recanto, de parque, de pátio, por onde caminho... de texto em texto... e vou sendo ... lentamente... arrebatado.
Arrebatado, convalesço das minhas dores, dos meus sofrimentos que, quando comparados às doenças terminais ou à angústia do suicida, tornam-se coceguinhas na barriga. Mas é em mim que elas doem e, portanto, por meio delas me aproximo dos doentes terminais e dos angustiados.
Leio e releio para me criar... para me criar em acordo com os escritos. Para fazer jus a esses registros enlevados do ser. Entretanto, no decurso das horas, desacordos proliferam: uma coisa quebrada aqui, condução para tomar, trânsito, tarefas para cumprir, contas para pagar (essa é a pior)... ARRRGHHH!
Nada disso tem importância. Mesmo assim, a menor destas coisas sem importância, quando não realizada, converte-se em foco contagioso, difundindo mal-estar em tudo...
Pode-se dizer que estas coisas, então, ganham importância? NÃO. Continuam menos importantes do que o prevalecimento de um estado acolhedor do ser.
Só consegue acolher quem tem reservado um espaço dentro de si. Um espaço vazio... um vazio! Se vazio estou, cada instante vivido ganha qualidade de inédito. E consigo fazer coisas rotineiras desimportantes terem significado pelo acolhimento silencioso efetivado no vazio do meu ser... pela infusão do inédito no velho.
Isso é criar. Isso me torna único e insubstituível!
Como torna únicos e insubstituíveis todos aqueles que assim procedem. Porque cada um tem a sua estória e a maneira particular de assimilá-la personifica como cada um disponibiliza o seu vazio.
Sem abrir um vazio, um vácuo, nenhum feito abrigará autenticidade.
Nenhuma frase, dita ou escrita, conterá substâncias nutritivas na forma de palavras.
Liban Raach

Os perigos do Fast-Food Espiritual



Muitos escrevem livros porque sabem algo e, todavia, porque necessitam aprender algo. "Escrevo um livro para poder trocar", me disse numa ocasião meu amigo Joseph Chilton Pearce. Nos primeiros anos desde a primeira edição em inglês deste livro, tenho observado — e espero ter apreendido — umas tantas coisas, tanto acerca do mundo da espiritualidade contemporânea como acerca de mim mesma.

Tenho aprendido que existe nas pessoas uma genuína sede do que é real. Não acreditava que este livro ia ser tão amplamente apoiado e apreciado por guias reconhecidos e estudantes deste campo, pois sei que o material que contém é exigente e supõe um desafio para o ego. Este livro se dirige de maneira direta à falsidade e a distorção tão frequentes tanto nos círculos espirituais contemporâneos como em nosso interior, e nem todo mundo está interessado nesta confrontação. Não obstante, mediante ao seu apoio e seu apreço, as pessoas demonstraram seu anseio de algo que fale sobre as verdades mais profundas que todos conhecemos; que a vida, também a "vida espiritual", está saturada tanto de sublime gozo como de devastador sofrimento, com avanços sem precedentes e constantes auto-enganos, com êxtases transbordantes e com ternos desenganos, com momentos extraordinários e com outros de um bruto cotidiano. Quando começamos a amadurecer espiritualmente, começamos a ver os erros cometidos (tanto por nós como por nossos guias) em nossas primeiras tentativas de regenerar uma cultura espiritual viva no Ocidente. Desse modo, nos interessamos cada vez mais na investigação de nossos erros para poder achar um modo de criar algo que fale diretamente tanto as nossas necessidades como as de nossa cultura.

No que diz respeito ao meu próprio desenvolvimento, o material do livro se aferra a mim como um prego em minha consciência. Ano passado imaginei que um autor poderia de algum modo escrever um livro e não sentir-se plenamente responsável de viver a verdade nele apresentada. Descobri que isto não é correto. O presente que me foi oferecido através do livro era uma oportunidade para encontrar a profunda sabedoria compartilhada comigo pelos grandes mestres de nossos dias; a "maldição" é que não posso dele duvidar e no fundo de meu coração nunca o quisera fazer. Sem dúvida, quando não me encontro centrada no centro de meu coração — e é muito fácil me afastar dele —, sou tão suscetível como qualquer um de cair na multidão de erros e enganos descrito ao longo destas páginas. Ano atrás ano, ao ser atraída pelas incontáveis seduções espirituais oferecidas pelo universo, minha consciência se vê graciosamente atormentada de intermináveis recordações: que é inútil se agarrar a experiência mística; que tanto o ego como o "coração" com frequência falam em similares tons; que a desilusão e os erros constituem uma parte importante do caminho; que o materialismo espiritual se esconde a cada esquina (especialmente no caso dos escritores destes temas!); que não podemos confiar em nossas experiências e sem dúvida temos que confiar nelas. Assim sendo, renovo meu voto diante de vocês, leitores, para seguir com meu trabalho com toda a integridade que me seja possível.

Além do mais, me sinto cada vez mais impressionada diante da natureza compartilhada tanto de nosso sofrimento como de nossa sede de liberdade. Algumas pessoas podem expressar este anseio através do alcoolismo, outras anestesiando a si mesmas na codependência das relações ou com a saturação material; e outras através de um intenso estudo, da meditação e da busca da verdade, porém há algo que segue sendo comum à todos. De algum modo compartilhamos de nosso destino e estou agradecida porque me recordar disto tão profundamente.

A medida em que iniciamos um novo século na evolução espiritual do Ocidente, necessitamos empregar uma combinação de penetrante auto-honestidade e sem comiseração, com uma terna compaixão ao revisar nossa própria condição interior, assim como a do mundo que nos rodeia. O ressurgir de um renovado interesse e sede de significado e satisfação espiritual em nossas vidas é inegável, e por isso temos a responsabilidade de insuflar integridade espiritual na cultura ocidental. Cabe a nós se assim permitirmos, escolher que este apetite seja saciado por uma medíocre empresa de fast-food, uma tendencia tão frequentemente expressada na modernidade ocidental, ou se dirigirmos nossa inteligência, nossa autenticidade e nossa integridade para a criação de algo verdadeiramente satisfatório, duradouro e que sirva à totalidade.

Mariana Caplan
Fairfax, California 2001

Fonte: Introdução à 2ª edição do Livro: A Mitad de Camino - La Falácia de la Iluminación Prematura - Mariana Caplan - Editorial Kairós

Sobre as pessoas comuns


As pessoas comuns, não conscientes da sua evolução, vivem no nível das opções da Personalidade, e não ao nível da verdadeira carência da Alma

Maria Flávia de Monsaraz
 

Aos Domesticados Servis


Não me agradam esses homens bem fracionados no tempo, cedendo-se amavelmente em todas as ocasiões.
E mais também não me agradam os partidários tão vários de toda a moderação.
Passo distante dessa gente comedida e moderada, que guarda o vinho 20 anos para bebê-lo mais velho, homens de ferro que só sabem anunciar a mensagem da espera, que aguardam o momento oportuno, que, sempre expelindo relógios, resistem à melhor viagem, que desconhecem as emoções, que sabem apenas sofrer sincronizados as tristezas publicadas nos jornais.
Adeus, moderados.
Adeus, que sou diferente: compreendo a mulher que rasga as vestes e sinto imensa ternura pelo homem desesperado.

Lupe Cotrin

Meu nome é Vergonha Tóxica


Quando você foi concebido eu estava lá
Na epinefrina da vergonha da sua mãe
Você me sentia no fluido do útero materno
Eu cheguei antes de você aprender a falar
Antes de você compreender
Antes que pudesse saber qualquer coisa.
Cheguei quando você aprendia a andar
Quando estava desprotegido e exposto
Quando era vulnerável e carente
Antes de ter suas fronteiras
MEU NOME É VERGONHA TÓXICA

Cheguei quando você era mágico
Antes que percebesse minha presença
Eu separei sua alma
Eu apunhalei seu coração
Eu o fiz sentir-se falho e deficiente
Eu trouxe comigo sentimentos de desconfiança, feiúra,
Estupidez, dúvida, de não valer nada,
De inferioridade e de inutilidade.
Eu o fiz sentir-se diferente
Eu disse que havia alguma coisa errada com você
Eu conspurquei sua semelhança com Deus
MEU NOME É VERGONHA TÓXICA

Eu existia antes da consciência
Antes da culpa
Antes da moralidade
Eu sou a emoção mestra
Sou a voz interior que murmura palavras de condenação
Sou o estremecimento interior que percorre seu corpo sem
Nenhuma preparação mental.
MEU NOME É VERGONHA TÓXICA

Eu vivo escondida
Nas margens úmidas e profundas das trevas da depressão e
Do desespero
Sempre o apanho desprevenido e entro pela porta dos fundos
Não convidado, indesejável
O primeiro a chegar
Eu estava lá no começo dos tempos
Com o Pai Adão, a Mãe Eva
Irmão Caim
Eu estava na Torre de Babel, na Matança dos Inocentes.
MEU NOME É VERGONHA TÓXICA

Eu venho de responsáveis “desavergonhados”, do abandono,
Do ridículo, do abuso, da negligência
- dos sistemas perfeccionistas
Recebo minha força da intensidade chocante da raiva dos pais
Das frases cruéis dos irmãos
Das humilhações zombeteiras das outras crianças
Do reflexo desajeitado nos espelhos
Do contato pegajoso e assustador
Da palmada, do beliscão, do gesto brusco que mata a confiança
Sou intensificado pela
Cultura sexista, racista
Pela condenação hipócrita dos fanáticos religiosos
Pelos temores e pressões da educação
Pela hipocrisia dos políticos
Pela vergonha multigenerativa dos sistemas familiares
Disfuncionais
MEU NOME É VERGONHA TÓXICA

Eu posso transformar uma mulher, um judeu, um preto,
Um gay, um oriental, uma criança preciosa em
Uma cadela, um porco, um negro sujo, um pervertido, um
Japa, um pequeno egoísta filho da mãe.
Eu trago uma dor que é crônica
Uma dor que nunca acaba
Sou o caçador que o persegue noite e dia
Todos os dias, em todos os lugares
Não tenho fronteira
Você tenta se esconder de mim
Mas não pode
Porque eu vivo dentro de você
Eu o faço sentir que a esperança não existe
Que não há saída
MEU NOME É VERGONHA TÓXICA

Minha dor é tão insuportável que você precisa passa-la para
Os outros através do controle, do perfeccionismo,
Do desprezo, da crítica, da culpa, da inveja, do julgamento,
Do poder e da raiva
Minha dor é tão intensa
Que você tem de me disfarçar com vícios, papéis rígidos,
Repetições de fatos dolorosos e defesas inconscientes do ego
Minha dor é tão intensa
Que você tem que alivia-la e não mais me sentir.
Eu o convenci de que fui embora – que eu não existo –
Você sentiu a ausência, o vazio.
MEU NOME É VERGONHA TÓXICA

Eu sou o centro vital da sua co-dependência
Eu sou a falência espiritual
A lógica do absurdo
A compulsão repetitiva
Eu sou o crime, a violência, o incesto, o estupro
Sou o abismo voraz que alimenta todos os vícios
Sou a insaciabilidade e o desejo carnal
Sou Ashaverus o Judeu Errante, o Holandês Voador
De Wagner, o homem do submundo de Dostoievski,
O sedutor de Kierkegaard, o Fausto de Goethe
Eu transformo quem você é no que faz e no que possui
Eu assassino sua alma e você me passa adiante
Para as gerações futuras
MEU NOME É VERGONHA TÓXICA

John Bradshaw
Do Livro: Curando a Vergonha que impede de viver

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O que conta



Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.

Albert Einstein  

A busca de conforto do homem

Para o homem que está numa prisão, a liberdade só pode consistir num voo da imaginação. Vossa busca da realidade é somente uma fuga à atualidade. Não busqueis vãmente o que é a verdade, porém descobri os empecilhos que impedem a mente de percebê-la.
 
 
O homem, na sua busca de conforto e segurança separou a vida em duas divisões: a material e a espi­ritual. A material — o mundo economico e social — acha-se integralmente baseada no espírito de aquisição, que desenvolveu as distinções de classe, isto é, cada um, na busca individual da sua própria segurança e do seu próprio conforto, criou um sistema econômico e social de cruel exploração. Os meios de adquirir riqueza — máquina posta nas mãos de uns poucos — conduziu a um imenso sofrimento, e para sustentar esse interesse rendoso, organizaram-se partidos políticos separatistas, os quais desprezam integralmente o homem, servindo-se dele, apenas, para aumentar seu poder e importância. E o indivíduo está encarcerado nesta complicada tra dição de falsos valores, que ele próprio construiu, per sistentemente, através dos séculos.

No mundo das coisas espirituais há também espí rito de aquisição, embora sob forma diferente. Na vida espiritual a busca da segurança expressa-se pelo desejo de imortalidade. Existe em cada um o desejo de ser permanente e eterno. É isto que todas as religiões pro metem, a imortalidade no além. Assim as religiões tor naram-se, por todo o mundo, receptáculos de interesses pecuniários e de crenças organizadas e fechadas. No fim de tudo os vossos ideais apenas são meios de fugir da atualidade. As religiões, com suas crenças, dogmas e credos, tornaram-se barreiras formidáveis entre os seres humanos, separando e atirando o homem contra o homem, limitando-os e destruindo-lhes a inteligência.

Cada um de nós procura a imortalidade e a segu rança num outro mundo, em virtude disso as religiões, com todas as suas explorações, domínios e temores tornam-se uma necessidade. E aqui, neste mundo, pro curamos uma segurança de espécie diferente, por isso criamos costumes, um cruel sistema de competição e de guerras, de distinções de classe e tudo o que se lhe segue.

Vós, como indivíduos, haveis criado esta angústia das distinções e este sofrimento. Vós, como indivíduos, é que tendes de alterar este estado de coisas. Portanto o que há de trazer ao mundo uma condição feliz e inteligente é o vosso próprio despertar.

Eu realizei aquilo que, para mim, é a suprema feli cidade — não a oriunda do prazer, mas a que promana dessa quietude interior que é a segurança da tranqui lidade, a realização da inteireza. Uma vez que o homem realize isso vem-lhe a tranquilidade, não da estagnação, porém da criação, a do ser eterno. Para mim a reali zação desta verdade é a finalidade do homem. É somen te por meio do esforço individual que a verdade pode ser realizada, não por meio de associações de qualquer espécie que sejam.

Não pode haver felicidade humana enquanto existir exploração. Na minha opinião a exploração manifes ta-se quando os indivíduos buscam ter mais do que as suas necessidades essenciais exigem.

Como conheceis pouco a vida que vos cerca que reis escapar e aspirais alguma coisa no futuro, agra­dável, bela, maravilhosa. Mas o que importa é o que sois agora. O que criais no momento presente é que tem valor. Está no vosso poder atingir a libertação e a felicidade e ninguém o pode fazer por vós.

Não busqueis a felicidade que desejais nem no futuro, nem no passado, mas no agora. De que serve ser feliz daqui a dez anos, se agora estais solitários, se cada instante cria lágrimas, sofrimento e dor?

A Vida e vós sois uno. Somente o ignorante vê a separação.

Tendo certeza não necessitareis de fé, nem de crença. Na verdade não há mistérios.

O homem perfeito não é um exotismo da natureza mas a sua floração.

Não busqueis comodidade ou consolo, buscai com preensão. Buscar comodidade é escravizar a vida, buscar compreensão é dar-lhe liberdade.

O homem que diz: "dizei-me como hei de agir", não deseja pensar com profundeza acerca do assunto, deseja apenas que lhe digam o que fazer, e isto cria os perniciosos sistemas da autoridade e do setarismo.

O círculo vicioso do sofrimento e da escápula continuará até que comeceis a verificar a futilidade da fuga.

Não podeis conhecer o gosto do sal enquanto não o provardes vós mesmos. Entretanto desperdiçamos tempo a buscar uma descrição da verdade. Digo-vos que não a posso descrever, não posso exprimir em palavras essa vivente realidade.

Krishnamurti

Krishnamurti – Francisco Ayres
Editora SOMA - São Paulo - 1984
Páginas 87 à 90
 

Imobilidade atuante


Criar dentro do universo virtual é criar na imobilidade. O quanto desta aparente imobilidade pode interferir no real é o questionamento a se fazer; se a modificação de um fato distante noticiado está ao nosso alcance.

Eu afirmo: isso depende do quanto estamos em um estado de Unidade, o quanto estamos nos permitindo ser empaticamente solidários com o ocorrido. Isso não requer nenhuma ação concreta. É uma espécie de dinâmica interior. Qualquer ação concreta desprovida desta dinâmica interior é sem efeito. Pode até trazer alívio às necessidades primárias imediatas. E mais nada além...

Um exemplo está nas recentes doações às vítimas da tragédia pelas chuvas. Este é um típico fato distante noticiado, cuja modificação acreditamos estar fora do nosso alcance. Porém, todo o volume de doações e ajuda voluntária terão efeito fugaz. Claro que irão proporcionar alívio e amparo às necessidades imediatas, quando chegarem ao local da tragédia, mesmo se a logística contiver vícios de desvios e corrupção. Mas as condições sociais por trás de tal tragédia continuarão a existir.

Então, como eu, centenas de quilômetros dali, poderia alcançar aquelas pessoas que estão sem casa e sem comida? Como poderia aliviar o desespero e a dor delas?

A resposta é: compartilhando com elas aquela dor e aquele desespero – no exato lugar que estou e no exato momento em que tomo conhecimento delas.

Para muitos, isso está muito além da compreensão e da capacidade de suportar. Para suportar o compartilhamento de uma dor desta magnitude, onde sobreviventes ficam instantaneamente desprovidos de todos os alicerces da própria vida (sem todos os parentes, sem todos os pertences), somente o mais amoroso desapego de tudo que representa a vida comum pode ajudar deveras. A ajuda de que tanto necessitam está no campo psico-energético. Ou seja, está numa dimensão não mensurável, não racional, não científica, para além da excelência em logística, ou de qualquer formalidade corporativa empresarial, ou de qualquer estudo acadêmico. Está numa disponibilidade afável para com a dor alheia. E tal disponibilidade, tal afabilidade, tal poder de amparo no campo psico-energético, só existe de forma autêntica, legítima, em quem sabe vivenciar a própria dor em toda sua intensidade... em toda a sua mais profunda e intensa solidão... no mais absoluto abandono...no mais desesperador isolamento... próximo, muito próximo do auto-extermínio...do extermínio de toda vontade falsa do ego...

As maiores crueldades que uma tragédia desta proporção denunciam são as frivolidades que adotamos por representações da nossa própria vida trivial. São estas frivolidades; esta inabilidade de empatia, este não querer se aperceber e compartilhar da dor contida em si mesmo e, muito menos, da dor no outro; as verdadeiras responsáveis pela falta de providências que poderiam evitar tais tragédias. As responsáveis pela imensa gama de violências, de tragédias diárias, banalizadas de tão rotineiras.

E a que... ou a quem... devemos responsabilizar pelo predomínio destas frivolidades?

Quem, em última instância, prefere entretenimentos recreativos, distrações, consumismos e outras fugas, ao invés de depurar os males e as angústias, senão nós mesmos?

Liban Raach


MENTE LIVRE


(Paris V)
   
A mente religiosa difere sobremodo daquela que crê na religião. No sentido psicológico, a mente religiosa está livre da sociedade, livre também de todas as formas de crença, todas as formas de exigência de experiência e auto-expressão. O homem sempre criou, através das idades, um conceito a que deu o nome de “Deus”. Para o homem, a crença nesse conceito chamado Deus sempre foi necessária, porque vê que a vida é desgraçada, uma sucessão de batalhas, conflitos, aflições — com uma ocasional centelha de luz, de beleza, de alegria.

A crença num conceito, numa fórmula, numa idéia, se tornou necessária porque a vida pouco significa. A rotina diária, o emprego, a família, o sexo, a solidão, a opressão, o conflito da auto-expressão, são coisas insignificantes; e, no fim de tudo, a morte! Portanto, o homem tem de crer, a crença se lhe tornou uma imperiosa necessidade.

Conforme o clima e a capacidade intelectual dos inventores dessas idéias e fórmulas, estabeleceu-se o conceito de Deus, do Salvador, do Mestre, e o homem sempre tentou, por esse meio, alcançar um estado de suprema felicidade, de Verdade, a realidade de um estado mental inteiramente a salvo de perturbações. Os autores dessas idéias e conceitos estabeleceram um sistema ou caminho para ser percorrido a fim de alcançar-se aquela Realidade. E o homem tem torturado a sua mente — pela disciplina, o controle, a renúncia, a abstinência, a austeridade — inventando diferentes caminhos para aquela Realidade. Na Ásia, há muitos caminhos que conduzem à Realidade (pelo menos é o que se diz), conforme os temperamentos e as circunstâncias, e tais caminhos são seguidos para se alcançar aquela Realidade que não pode ser medida pelo homem, pelo pensamento.

No Ocidente, há um Salvador; só por meio dele pode achar-se aquela coisa suprema. Todos os sistemas do Oriente e do Ocidente implicam um constante controle, uma constante deformação da mente, a fim de ajustá-la ao padrão fixado pelo sacerdote, pelos livros sagrados, por todas essas coisas deploráveis que constituem a essência mesma da violência. Sua violência não consiste apenas em renunciar à carne, mas também em renunciar a toda forma de desejo, a toda forma de beleza, por meio do ajustamento a determinado padrão.

Têm-se registrado milagres, de certa natureza, tanto no Oriente como no Ocidente; mas, milagres são das coisas mais fáceis de operar. E os que realizam tais milagres são ungidos como santos; são homens que “bateram todos os recordes” de ajustamento a um padrão, expresso em sua vida diária. Têm eles muito pouca humildade, porque a humildade não pode ser exibida exteriormente; o cingir uma tanga, uma túnica, não é de modo nenhum um atestado de humildade. Como toda virtude, a humildade existe de momento em momento, não pode ser produto de cálculo, não pode ser estabelecida como um padrão para ser seguido.

Mas o homem, através das idades, sempre fez isso; o iniciador, aquele que por primeiro experimentou uma certa coisa chamada Realidade, estabeleceu um sistema, um método, um caminho, que o resto da humanidade ficou seguindo. Os seus discípulos, por meio de hábil propaganda e de ardilosas maneiras de cativar a mente humana, estabeleceram uma busca e um sistema de dogmas e rituais. E nessa rede o homem ficou emaranhado. Quem deseja descobrir aquilo que o homem está sempre a buscar deverá submeter-se a uma certa espécie de deformação, certa espécie de repressão, de tortura, a fim de alcançar aquela suprema beleza. Intelectualmente, pode-se perceber o absurdo que há em tudo isso; intelectualmente, percebe-se o absurdo de ter qualquer crença que seja, e a insensatez de qualquer ideologia. Intelectualmente, a mente poderá dizer que uma coisa é absurda e livrar-se dela; porém, interiormente, intimamente, está sempre a buscar, fora dos rituais, dos dogmas, das crenças, dos Salvadores, fora de todos os sistemas, que são óbvias invenções do homem. Vendo que seu Salvador, seus deuses, são invenções, pode um homem libertar-se deles com relativa facilidade. É o que está fazendo o homem moderno (não sei porque se faz uso da palavra “moderno”; o homem foi sempre muito semelhante ao que é hoje, através de gerações e gerações). Mas, hoje em dia, o clima é tal que ele está negando totalmente a autoridade do sacerdote, da crença e do dogma, em suas próprias raízes; para ele, Deus morreu — morreu muito jovem! E, não havendo nem Deus, nem crença, não existe outro conceito senão o do prazer físico, concreto, da satisfação física, e de uma sociedade evoluída. Vive o homem para o presente, negando totalmente a concepção religiosa.

Começa-se por rejeitar os deuses externos e os sacerdotes das religiões. Estas devem ser totalmente rejeitadas, porque não têm valor algum, sempre geraram guerras e dividiram os homens. As religiões, não importa se judaica, hinduísta, cristã, muçulmana, destruíram o homem, dividiram a humanidade, e sempre foram uma das principais causas da guerra e da violência. E, percebendo isso, o homem rejeita a religião, põe-na à margem como coisa infantil, imatura. Intelectualmente, isso é muito fácil; quem vive neste mundo e observa os métodos de exploração por parte das igrejas e dos templos, que pode fazer senão negar? Mas, muito mais difícil é um homem libertar-se da crença e do buscar, no nível psicológico. Todos desejamos achar uma certa coisa não contaminada pelo homem, não contaminada pelo pensamento sutil; uma certa coisa que a razão não possa destruir. Intimamente, todos buscamos, porquanto nossa vida é um tormento, uma batalha, uma aflição, uma rotina. Pode um homem ter a capacidade de expressar-se pela palavra, pela pintura, pela escultura, pela música, mas mesmo essa capacidade pode tornar-se um tanto vazia. A vida, tal como a conhecemos, é muito vazia e, conseqüentemente, procuramos preenchê-la com a música e a literatura, com diversões e entretenimentos, com idéias, com conhecimentos; mas, se nos investigamos mais profundamente, descobrimos como estamos vazios, como é superficial a nossa existência — embora tenhamos títulos, haveres, capacidades.

A vida é vazia e, percebendo esse fato, andamos em busca de meios e modos, não só de preencher esse vazio, mas também de alcançar uma certa coisa não mensurável pelo homem. Uns tomam drogas, L.S.D. ou qualquer outra das várias drogas psicodélicas que expandem a consciência. Por meio delas, alcançam-se ou experimentam-se certos estados, porque se deu ao cérebro uma certa sensibilidade. Mas, tais resultados são puramente químicos. São resultados produzidos por agentes externos. A pessoa toma a droga na esperança dos resultados e tem em seguida, interiormente, tais experiências. E como cada um tem suas crenças, cada um experimenta de acordo som elas. São coisas similares (as drogas e as crenças), e, contudo o homem fica preso à crença — ao narcótico da própria crença, ou à crença no narcótico químico. Fica, inevitavelmente preso na rede de seus pensamentos. Mas, ao perceber bem isso, o homem rejeita a crença — quer dizer, fica inteiramente livre de todas as crenças. Isso não significa que ele se torna agnóstico, que se torna pessimista ou amargurado. Pelo contrário ele percebe a natureza da crença e a razão por que a crença se tornou tão desmedidamente importante; a razão é o medo — basicamente, é esta a razão. Medo — não só da vida, do diário tormento, mas também medo de não “vir a ser”, de não “realizar-se” psiquicamente, de não preencher-se, de não alcançar poder, prestígio, fama — tudo isso cria muito medo, mas esse medo podemos suportar; porém, foi por causa desse medo interior que a crença se tornou tão importante. Ante a absoluta inanidade da vida, a pessoa persiste apegada à crença; ainda que se livre da autoridade externa da crença — da crença inventada pelos sacerdotes, em todo o mundo — cria, para si própria, sua crença particular, a fim de encontrar aquela coisa extraordinária que o homem sempre buscou.

Portanto, o homem busca. A natureza, a estrutura da busca é bem clara. Porque buscamos? Essencialmente por egoísmo — um egoísmo esclarecido, porém sempre egoísmo. Porque, diz a pessoa: “A vida é tão sem valor, tão vazia, monótona, estúpida! Deve haver mais alguma coisa e, por isso, irei àquele templo, àquela igreja, àquele...”. Mais tarde, a pessoa rejeita tudo isso e começa a buscar profundamente. Mas o buscar, em qualquer forma que aja, se torna, psicologicamente, um obstáculo. Isso precisa ser compreendido com toda a simplicidade e clareza. Podemos, objetivamente rejeitar a autoridade de qualquer agente externo que promete levar-nos à verdade suprema — de fato o fazemos. Mas (uma vez compreendida a natureza da busca) é necessário rejeitar também todas as formas de busca, porque, afinal, que estamos buscando? Se investigais, o que é que estais procurando, o que é que desejais, não percebeis que estais buscando alguma coisa que já conhecestes, que perdestes e desejais achar? Essa é uma das implicações do buscar. No buscar, está contido o processo do reconhecimento; isto é, quando achais qualquer coisa que estejais buscando, deveis ser capazes de reconhecê-la, senão a busca não tem sentido nenhum. Por favor, continuai a prestar atenção. Uma pessoa busca uma certa coisa, na esperança de achá-la e, ao achá-la, de reconhecê-la. Mas o reconhecimento é ação da memória e, por conseguinte, supõe que já conhecíeis a coisa, que ela já fora vislumbrada por vós; ou, tendo sido tão condicionado pela intensa propaganda das religiões organizadas, vós vos hipnotizais para vos pordes naquele estado (estado de reconhecimento). Assim, quando estais buscando, já tendes um conceito, uma idéia relativa à coisa buscada; e quando a achais, isso significa que já a conhecíeis, senão não poderíeis reconhecê-la; portanto, ela não é verdadeira, em absoluto. Por conseguinte, devemos alcançar aquele estado mental realmente livre de toda busca, de toda crença — sem nos tornarmos pessimistas, sem nos estagnarmos. Pois tendemos a pensar que, se não buscamos, se não nos esforçamos, se não lutamos, se não buscamos incessantemente, definharemos. E não sei porque não devemos definhar — como se já não estivéssemos a definhar... A gente definha quando morre, quando envelhece, quando o organismo físico perece. Nossa vida é o “processo” do definhar, porque, nela, na vida diária, nós imitamos, copiamos, seguimos, obedecemos, nos ajustamos; tudo isso são formas de definhamento. Assim, a mente que já não está presa a nenhuma forma de crença, a nenhuma crença por ela própria criada, que já não está a buscar coisa alguma — embora isso possa ser um pouco mais difícil — está sumamente ativa. A verdade é uma coisa que só existe de momento em momento; como a virtude, como a. beleza, ela não tem continuidade. O que tem continuidade é produto do tempo, e o tempo é pensamento, o tempo é sofrimento, o tempo é...

Vendo o que o homem fez a si próprio, quanto se torturou, quanto se embruteceu — tornando-se nacionalista, absorvendo-se num certo entretenimento, como a literatura ou isto ou aquilo — vendo todo esse padrão de vida, perguntamos a nós mesmos: “É necessário passar por tudo isso?” Entendeis esta pergunta? Tem um ente humano necessidade de passar por todo esse processo, passo a passo: rejeitar a crença (se está de fato vigilante), rejeitar a busca de qualquer espécie, rejeitar a tortura da mente, rejeitar a satisfação dos apetites? Vendo o que o homem fez a si próprio, no intuito de encontrar aquilo a que chama Realidade, perguntamos (perguntai-o a vós mesmo e não a mim) - se existe um meio, um “estado de explosão” que tudo rejeita repentinamente — pois o tempo não é o meio adequado.

A busca supõe o tempo — achar no fim de certo tempo (daqui a dez anos ou mais), ou na próxima encarnação (em que crê toda a Ásia). Tudo isto implica tempo: livrar-nos gradualmente de todos esses conflitos e problemas; tornar-nos pouco a pouco mais judiciosos, mais hábeis, mais sabedores; descondicionar a mente lenta e gradualmente. É isso o que o tempo encerra. O tempo, evidentemente, não constitui o meio adequado, e também não o constitui a crença, nem as disciplinas artificiais, impostas por um sistema, por um guru, por um instrutor, por um filósofo, por um sacerdote. Tudo isso é infantilidade. Mas é possível, sem termos de passar por tudo isso, encontrar aquela coisa inefável? Pois ela não pode ser chamada. Por favor, compreendei este fato tão simples: ela não pode ser chamada e não pode ser buscada. Nossa mente é tão estúpida e limitada, nossas emoções tão vulgares, nossas maneiras de vida tão confusas, que aquela imensidão não pode ser convidada a entrar em nossa pequenina casa, num pequeno aposento, ainda que asseado e bem arrumado. Não podemos “convidá-la”; para convidá-la, precisamos conhecê-la, e nós não podemos conhecê-la (não importa quem diga que podemos), porque, no momento em que digo “conheço-a”, não a conheço. No momento em que digo que a achei, não a achei. Se digo que a “experimentei”, nunca a experimentei. Tudo isso são maneiras astuciosas de explorar outro homem — amigo ou inimigo.

Ao perceberdes isso, não intelectualmente, porém na vida diária, em vossas atividades cotidianas (quando escreveis, quando falais, quando saís de carro ou passeais a sós numa floresta) — ao perceberdes isso, num relance (não precisais de ler volumes para o perceberdes), compreendereis toda a estrutura. E só podeis compreendê-la como um todo, quando vos conheceis; quando vos conheceis simplesmente, tal como sois, como um resultado de toda a humanidade, quer sejais hinduísta, muçulmano, cristão, quer sejais qualquer outra coisa. Quando vos conheceis como sois, compreendeis toda a estrutura do esforço humano — embustes, hipocrisias, brutalidades, busca.

E, pergunta-se: É possível encontrar essa coisa sem a chamar, sem a esperar, sem a buscar, sem explorar? É possível ela aparecer, “acontecer”, como a brisa que entra pela janela aberta? Não se pode chamar a brisa, mas temos de deixar aberta a janela. Isso não significa ficar num estado de espera, que é uma outra maneira de enganar a nós mesmos; não significa que devamos abrir-nos, para recebê-la, pois isso é outra forma de pensamento.

Mas, se nos interrogamos sem buscar, sem crer, então, nesse próprio interrogar, achamos. Mas nós nunca nos interrogamos. Queremos ser informados, queremos tudo corroborado, confirmado; fundamentalmente, nunca estamos livres da autoridade interior e exterior, em todas as formas. Esta é uma das mais curiosas peculiaridades da estrutura de nossa psique. Queremos que nos digam as coisas. Somos o resultado do que nos é dito. O que se nos diz é propaganda milenar. Temos a autoridade do livro antigo, a autoridade do líder atual, ou de um orador. Mas se, fundamentalmente, realmente, rejeitamos toda e qualquer autoridade, isso significa que ficamos isentos de temores. Ser sem medo é olhar o medo, pois, como acontece em relação ao prazer, nunca entramos diretamente em contato com o medo. Nunca entramos em contato real com o medo, assim como entramos em contato com uma porta, uma mão, um rosto, uma árvore, quando os tocamos; só entramos em contato com o medo através da imagem do medo que criamos para nós mesmos. Só conhecemos o prazer pela metade. Nunca estamos diretamente em contato com coisa alguma. Não sei se já observastes, ao tocardes uma árvore (como o fazeis, quando passeais na floresta), se de fato a tocais. Ou existe uma cortina entre vós e a árvore, embora a estejais tocando? Para se entrar diretamente em contato com o medo, não deve haver imagem alguma, quer dizer, não deve haver nenhuma lembrança do medo de ontem. Só então é possível entrar em contato real com o medo real de hoje. Então, se não há lembrança do medo de ontem, tendes a energia necessária para enfrentar o medo presente; e necessita-se de uma tremenda energia para enfrentar o presente. Dissipamos essa energia vital — que todos nós temos por causa dessa imagem, dessa fórmula, dessa autoridade; e o mesmo acontece quando se está buscando o prazer. A busca do prazer é para nós sumamente importante. O prazer supremo é Deus — o Deus que supomos existir — mas ele pode ser a coisa mais aterradora que se possa conhecer; mas nós o imaginamos — o Supremo — e por isso nunca o encontramos. Mais uma vez, o fato é que — assim como reconhecemos um prazer como um prazer que ontem experimentamos — nunca estamos realmente em contato com a experiência real, com um estado real. A memória de ontem está sempre a cobrir, a velar o presente.

Assim, em vista de tudo isso, podemos ficar sem fazer nada, sem lutar, sem buscar, ficar totalmente “negativos”, totalmente vazios, inativos — uma vez que toda ação é resultado da “ideação”? Se já vos observastes quando agis, tereis visto que isso acontece por causa de uma idéia prévia, um conceito prévio, uma prévia lembrança. Há separação entre a idéia e a ação — um intervalo, ainda que muito pequeno, diminuto. Por causa dessa separação, há conflito. Pode a mente ficar completamente quieta, sem pensar, sem ter medo e, por conseguinte, sobremodo viva, ativa?

Conheceis a palavra “paixão”; esta palavra significa, muitas vezes, “sofrimento”. Os cristãos têm-na empregado para simbolizar certas formas de sofrimento. Não é nesse sentido que estamos empregando a palavra “paixão”. No completo estado de negação encontra-se a mais elevada forma da paixão; essa paixão implica o “total abandono de si próprio”. Para esse total “auto-abandono” necessita-se de austeridade em alto grau; austeridade que não seja a rudeza do sacerdote para com os que o cercam; que não seja a austeridade dos santos, que a si próprios torturam e que se tornaram austeros por terem embrutecido a própria mente. Austeridade é, com efeito, simplicidade, no mais alto grau — não simplicidade no vestir, no comer, porém simplicidade interior. Essa austeridade, essa paixão, é a negação total, a negação na forma mais elevada. Então, se tiverdes sorte (sorte! — isso não é questão de sorte: a coisa vem sem ser chamada!) É que deixais de lutar, de forcejar em busca de alguma coisa. Podeis então fazer o que quiserdes — porque haverá amor!

Sem essa mente religiosa, não é possível criar uma verdadeira sociedade. Temos de criar uma nova sociedade em que haja muito pouco ensejo para as terríveis atividades citadas pelo egoísmo. Só com a mente religiosa pode haver paz — exterior e interiormente.

Krishnamurti - 20 de abril de 1967 – Do Livro: A Essência da Maturidade - ICK 

Junte-se a essa risada cósmica




Amor.
Estou feliz em receber sua carta.
Você tem a força dentro de si, mas não sabe disso.
Para encontrá-la você precisa de um catalisador.
No dia em que você entender isso, você vai rir, mas até então estou preparado para ser o catalisador.
Eu já estou rindo e somente esperando pelo dia em que você puder se juntar a mim, nessa risada cósmica.
Veja! Krishna está rindo! Buda está rindo!
Ouça! A terra e o céu estão rindo!
Mas o homem está chorando porque ele não sabe o que é.
Que piada! Que brincadeira!
Os imperadores continuam a mendigar e os peixes estão com sede no oceano!


Osho, em "Uma Xícara de Chá"

 Imagem por charles chan *

Quando o Ego é Anulado, Deus se Manifesta


Quando o Ego é Anulado, Deus se Manifesta


"Ó Deus, que está no fundo da minha alma!
Que eu ouça com precisão a sua Voz.
Que Sua vontade se manifeste em minha
mente. Que meu ego seja anulado. Que
meus atos sejam Seus atos."

Esta é a minha oração. Quando eu anulo meu ego, Deus Se manifesta aqui. (...)
Quando me liberto da mente do ego, manifestam-se somente a perfeição e a harmonia.
É melhor não empenhar muito esforço próprio.

Do livro Preceitos de Luz - Masaharu Taniguchi, p. 207




A canção é essencial

 
Você não pode conciliar a criatividade com a realização técnica. Você pode ser perfeito tocando um piano, e pode não ser criativo, pode tocar piano brilhantemente, e não ser um músico. Você pode ser capaz de dominar as cores, colocar tinta sobre uma tela de forma inteligente, e não ser um pintor criativo. Você pode criar um rosto, uma imagem de uma pedra, uma vez que você tenha aprendido a técnica, e não ser um mestre criador. Criação vem em primeiro lugar, e não a técnica, e é por isso que toda a nossa vida é miserável. Temos técnica de como administrar uma casa, como construir uma ponte, como montar um motor, a forma de educar os nossos filhos através de um sistema – nós aprendemos todas estas técnicas, mas nossos corações e mentes estão vazios. Somos máquinas de primeira de classe, sabemos como operar maravilhosamente, mas nós não amamos uma coisa viva. Você pode ser um engenheiro bom, pode ser pianista, escrever em bom estilo inglês ou Marathi ou na sua língua , mas a criação não é encontrada através da técnica. Se tiver algo dizer, você pode criar um estilo próprio, mas quando nada se tem a dizer, ainda que tenha um lindo estilo, o que você escreve é unicamente a tradicional rotina, uma repetição em novas palavras das mesmas coisas velhas ... Assim, tendo perdido a canção, nós perseguimos o cantor. Aprendemos do cantor a técnica de canção, mas não existe nenhuma canção, e digo que a canção é essencial, a alegria de cantar é essencial. Quando a felicidade existe, a técnica pode ser construída do nada, você inventará sua própria técnica, você não terá que estudar eloqüência nem estilos. Quando você a tem, você vê, e o mesmo ver a beleza é uma arte.

Autor: Krishnamurti – O Livro da Vida

Foto: Nelson Jonas

Vômitos sobre o teclado

Há momentos em que é tão grande a minha insatisfação com o que há, que para não sufocar, escrevo. Nesses agudos momentos, por maior que seja o meu esforço, sou incapaz de esconder a qualidade do meu estado de espírito daqueles que ainda não tiveram sua sensibilidade adulterada. Diante destes, não há cosmética capaz de cobrir as verdadeiras cores de uma alma em sufoco. Eles olham e perguntam quase que em afirmativa negativa:
- Você está bem? Mesmo?

E, mesmo para estes, percebo a inutilidade de tentar traduzir o conteúdo que não pode ser descrito em palavras. A melhor tentativa de traduzir o não traduzível, quase sempre se traduz em maior conflito e confusão. Como diz um velho ditado italiano: traduttore, traditore, ou seja, o tradutor é um traidor por não conseguir ser fiel a essência. É como querer traduzir dores de parto em deserto escaldante para um homem que sempre viveu em geleiras. Ou como querer descrever o desespero da falta de luz para quem sempre viveu na escuridão. Nesses momentos de aguda insatisfação, o melhor mesmo é silenciar. Agora, se a dor for insuportável, melhor vomitá-la sobre o teclado, onde os inadequados comentários que não alcançam as súplicas da alma, ao menos podem ser deletados.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Importante alerta




Um dos principais requisitos para um indivíduo entre na vibração que está acima do plano das aspirações é a capacidade de se autogerir. Aquele que precisa de acompanhamento, que ainda não resolveu em si certos pontos que o impedem de manifestar ordem e coerência externas, não pode ter essa profunda vivência interior.



A possibilidade de vencer a inércia, de ter controle sobre os corpos e reações de modo a impedir a circulação de energias dispersivas e dissolventes em seu Ser, são qualidades e atitudes fundamentais àqueles que assumem a manifestação dessa consciência.



A capacidade de se posicionar corretamente diante das prioridades que são apresentadas em sua vida de Serviço e de ter um preciso equilíbrio na disposição do tempo é também algo que o indivíduo já deve trazer consigo. A abertura à vivência interior, sem fantasias, mas com um ardor capaz de dissolver os obstáculos à sua própria entrega tampouco pode estar ausente. Assim, com clareza sobre o que lhe tenha sido confiado como tarefa, ele deve superar toda e qualquer acomodação que os corpos materiais possam apresentar e, sempre em ascensão, oferecer-se à Obra Divina.


 

Trigueirinho

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Satsang: Uma lavagem cerebral


 
 
Ela é usada por políticos, religiosos e gente querendo sua grana. Saiba como ela funciona e aprenda a blindar sua mente.
por Barbara Axt

Em 1974, Patty Hearst, herdeira de um império de comunicação, morava na Califórnia, cursava faculdade e preparava seu casamento. Até que, numa bela noite, a patricinha foi sequestrada por um grupo paramilitar esquerdista chamado Exército Simbionês de Libertação e dois meses depois reapareceu, armada com um rifle e uniformizada, assaltando um banco ao lado do bando. Durante um ano e meio participou de várias ações, atacando mais dois bancos, roubando lojas e fugindo da polícia. Ninguém entendeu nada: o que transformou aquela garota rica de 19 anos em uma guerrilheira urbana? Quando finalmente foi capturada pela polícia, Patty explicou: tinha sido submetida a uma lavagem cerebral. Foram 57 dias trancada em um armário, sofrendo maus-tratos físicos e psicológicos. Teve gente que duvidou da explicação, achando que se tratava de desculpa esfarrapada. Mas, por outro lado, o que explicaria uma mudança tão radical?

Apesar de não existir consenso sobre até que ponto é possível substituir convicções e comportamentos, não faltam estudos sobre o processo de lavagem cerebral. O termo passou a ser usado no Ocidente durante a Guerra da Coreia (1950-53), para descrever o comportamento de soldados americanos que, após um período capturados, voltavam defendendo os ideais comunistas dos inimigos China e Coreia do Norte. Aparentemente, não era teatro. Os soldados tinham "virado a casaca", exibindo atitudes incompatíveis com as de antes.

Muitos daqueles prisioneiros haviam sofrido torturas físicas que tornaram sua mente vulnerável; com outros, o processo foi menos óbvio e mais sutil, envolvendo a vítima sem que ela se desse conta. Seja qual for a estratégia, é essencial o elemento-surpresa.

Isso porque somos programados para reagir imediatamente a estímulos intensos: quando um ladrão pula na sua frente ou um carro vai em sua direção, o cérebro não perde tempo com análises. O caso nem passa pelo córtex pré-frontal, responsável pelo raciocínio complexo; vai direto para áreas cerebrais menos evoluídas, que decidem rapidamente o que fazer. Ou seja, quem quiser provocar novas crenças e comportamentos em alguém precisa criar situações que exijam reações automáticas, pois nelas o processo consciente é desativado.

Não é força, é jeito

Existem duas maneiras de deixar o sujeito estressado, frágil, cansado e, consequentemente, mais aberto a novas ideias. A primeira é a lavagem cerebral forçada, em que isso é alcançado com tortura, privação de sono e jejum. O segundo método, mais comum, é o induzido, em que a vítima é envolvida em um "intensivão". Pessoas que se dizem manipuladas por igrejas e cultos religiosos descrevem um programa intenso de atividades, palestras, celebrações e tarefas como distribuir panfletos, limpar o chão, fazer comida. Imersa nessa rotina, que geralmente prevê poucas horas de sono, a vítima fica tão cansada que literalmente não tem tempo para pensar sobre o que está acontecendo.

É a mesma técnica, por exemplo, daquele vendedor tagarela que o deixa confuso e faz com que você compre uma coisa de que não precisa, só para se livrar do chato. Em alguns casos, antes de iniciar o processo a pessoa já está fragilizada por alguma outra situação. "O fim de um relacionamento, um divórcio, a morte de alguém querido, até se formar na escola ou mudar de emprego pode tornar uma pessoa vulnerável, uma vez que tira o indivíduo de seu equilíbrio", explica o psicólogo americano Steve Hassan, que passou 5 anos como membro do culto conhecido como Igreja da Unificação, dos seguidores do reverendo Moon - também conhecidos como moonies. Ainda ativa, inclusive no Brasil, a seita ficou famosa justamente por seus métodos de recrutamento e acusações de lavagem cerebral.

"Eu tinha me separado de uma garota e, pouco tempo depois, fui abordado por 3 mulheres. Elas não falaram que eram de uma religião, que acreditavam que o reverendo Moon era o Messias, nada disso. Só falaram que faziam parte de um grupo de amigos espalhado pelo mundo e me convidaram para ir a um jantar grátis", explica Hassan. "A partir daí, foi um processo gradual. Ir lá e conhecer os amigos delas foi um passo. Voltar e jantar, outro passo. Ir a uma palestra, voltar no dia seguinte, mais um passo. Durante esse tempo, eles perguntavam várias coisas bem detalhadas sobre mim, e eu dava, voluntariamente, informações muito pessoais, sem perceber que estava entregando as ferramentas para que me manipulassem." Hoje, Hassan faz palestras de conscientização e presta consultoria a pessoas em situação similar à por que ele passou.

Ele chama a atenção para o fato de que, quando esse processo começa, a vítima não fica sabendo para onde está sendo levada nem quais crenças e comportamentos vai adotar no final. Mas, para que essas novas convicções sejam estabelecidas, entra em ação a segunda arma usada para tirar o córtex pré-frontal do caminho: emoções fortes.

Emoção embutida

"Quando algo provoca uma reação emocional, o cérebro se mobiliza para lidar com ela, destinando poucos recursos a reflexões", explica Kathleen Taylor, neurologista da Universidade Oxford, em seu livro Brainswashing - The Science of Thought Control ("Lavagem Cerebral - A Ciência do Controle Mental", sem tradução para o português). É exatamente nessa hora que a emoção pode ser ligada a uma ideia.

Durante a Guerra Fria, por exemplo, tanto capitalistas quanto comunistas se valiam de uma paranoia intensa e generalizada para vender conceitos vagos, difíceis tanto de definir quanto de contestar - "liberdade," "Estado," "inimigo". São ideias fortes, amplas o suficiente para você associar às emoções que quiser e que forem mais convenientes à manipulação.

Por isso se diz que a ideia é "engatada" à sensação: sempre que aquele assunto vier à tona, a sensação vem a reboque, num processo conhecido como reflexo condicionado. É o que acontece em um culto daqueles bem intensos, em que a pessoa dança, canta, grita, inunda o corpo de endorfina. Inconscientemente, a sensação de bem-estar passa a ser associada àquela religião.

Outro exemplo: um prisioneiro de guerra, depois de enfrentar tortura e jejum, é levado para tomar banho quente e fazer uma refeição enquanto escuta alguém descrevendo as maravilhas da doutrina comunista. Com a repetição do método, ele inconscientemente passará a associar comunismo a bem-estar. Se você se lembrou do filme Laranja Mecânica (1971), clássico do diretor Stanley Kubrick, acertou na mosca.

Na história, o personagem principal é um adolescente ultraviolento que se diverte torturando e estuprando por aí. Após ser preso, ele se oferece para um tratamento experimental que promete torná-lo um ser totalmente desprovido de violência.

O tratamento consiste em submetê-lo a sensações físicas desagradáveis (náuseas muito intensas) e a imagens violentas ao mesmo tempo, forçando seu inconsciente a associar as duas coisas. No final, o personagem passa a sofrer sensações físicas insuportáveis toda vez que tem contato com ideias ou situações violentas. (O irônico efeito colateral é que o jovem também fica condicionado a vomitar quando ouve a 9ª Sinfonia de Beethoven, trilha sonora usada nos filmes da prisão.)

Esse processo não pode ser considerado lavagem cerebral, pois não muda as convicções do indivíduo. Mas é um exemplo extremo de como podemos ser condicionados a fazer relações inconscientes de sensações com ideias.

Sob controle

Conquistado, o "cerebralmente lavado" se torna cada vez mais envolvido e dependente. O psiquiatra americano Robert P. Lifton, professor de universidades como Harvard e Yale, analisou esse processo, que ele chama de Reforma do Pensamento, e descreveu suas principais características (ver quadro Lavagem em 8 Passos). Todas - contatos controlados, jargão específico, dogmas incontestáveis etc. - que buscam criar um antagonismo claro: um mundo dividido entre "nós" e "eles".

Segundo Hassan, a pessoa envolvida com esse tipo de grupo se vê aos poucos dominada por medos paralisantes que chegam ao ponto de impedir que ela questione a situação. "Os cultos de controle da mente passam a seus membros a sensação de que, se eles saírem do grupo, coisas terríveis vão acontecer. Para quem está observando de fora, parece que essas pessoas estão felizes. Acontece que, na verdade, elas são orientadas a sorrir o tempo todo. Não é uma experiência positiva perder seu livre-arbítrio, apagar sua identidade, viver com medo e com culpa."

Vítimas de controle da mente aprendem a reprimir pensamentos "errados", como dúvidas ou críticas ao grupo, e por isso é difícil que elas questionem sua situação. Quando lida com pessoas nesse estado, Steve Hassan costuma agir de forma indireta, perguntando, por exemplo, opiniões a respeito de outro grupo. Ele mesmo só saiu da Igreja da Unificação porque sofreu um acidente e teve que ser internado em um hospital. Seus pais aproveitaram a chance para fazer com que ele (contra sua vontade) conversasse com ex-membros do culto. "Aos poucos fui entendendo que tinha sido enganado", lembra.

Se a história de Hassan parece muito fora da sua realidade, há um exemplo mais próximo de como é possível modificar uma pessoa a ponto de fazê-la agir contra seus instintos e convicções. Kathleen Taylor cita um sistema capaz de "transformar cidadãos - ensinados desde a infância que matar é errado - em agentes capazes de matar": as Forças Armadas. O processo de formação militar segue quase à risca as etapas descritas no modelo de Lifton, empregando rotina exaustiva, pressão psicológica, regras e punições rígidas e, claro, definição de um inimigo. Isso chega ao extremo no treinamento de terroristas islâmicos, à la Al Qaeda, em que os ensinamentos militar e religioso se combinam para formar indivíduos dispostos a dar a vida em nome de uma causa.

Mas não são apenas grupos militares e religiosos que usam essas técnicas. "Alguns cultos de negócios são casos típicos de controle da mente", diz Hassan, se referindo àqueles esquemas com hierarquia em formato de pirâmide em que para crescer é preciso comprar uma série de produtos e convencer outras pessoas a participar. "As pessoas se envolvem achando que vão ficar ricas e muitas vezes acabam perdendo todo seu dinheiro e arruinando a própria família, sem conseguir se desvencilhar."

Para o psicólogo, embora o controle da mente seja geralmente realizado por grupos, ele também pode acontecer de forma individual. Ele compara relacionamentos amorosos abusivos, em que a pessoa, influenciada pelo parceiro, passa a ter atitudes incompatíveis com as anteriores. "Esses relacionamentos podem incluir drogas, agressões físicas e isolamento da família e dos amigos. Às vezes o apaixonado simplesmente desaparece sem dar notícias", diz Hassan.

Mente blindada

Para a escritora Kathleen Taylor, a principal arma para evitar manipulações é, basicamente, "parar e pensar nas coisas". Sem se deixar levar pela afobação, fica fácil resistir tanto ao discurso nacionalista de um político quanto ao papo emocional de um pregador religioso.

Segundo Denise Winn, autora do livro The Manipulated Mind ("A Mente Manipulada", sem versão brasileira), um olhar bem-humorado sobre as coisas é útil para escapar da associação emocional exagerada, peça-chave da lavagem cerebral. "O humor ajuda você a ter perspectiva e sacar quem não tem. Desconfie de líderes, vendedores e experts que não conseguem rir de si próprios", diz a jornalista.

Outro ponto importante é não subestimar a influência que o meio e a autoridade podem ter sobre nós, já medidos em experimentos clássicos de psicologia social. A necessidade de ser aceito em um grupo leva muitas vezes ao "efeito rebanho", identificado na década de 1950 pelo psicólogo americano Solomon Asch e muito antes por quem inventou a expressão "maria-vai-com-as-outras".

Asch fazia uma experiência bem simples: reunia um grupo de pessoas e mostrava a elas um cartão com uma série de linhas de comprimentos bem diferentes. Depois, fazia perguntas óbvias, como pedir que identificassem qual a linha mais longa. Todas as pessoas na sala, menos uma, tinham sido orientadas para escolher a mesma resposta - claramente errada. Surpreendentemente, 1 em cada 3 vítimas da "pegadinha" concordava com o grupo, mesmo sabendo que estava escolhendo a opção incorreta.

Em 1963, o psicólogo Stanley Milgram conduziu um experimento para medir autoridade. Universitários eram instruídos a aplicar choques elétricos cada vez mais fortes em um "voluntário" (na verdade um ator) toda vez que ele errasse a resposta a uma pergunta. O estudante era orientado por um pesquisador (outro ator), que dizia para que ele continuasse, independentemente do "sofrimento" da suposta cobaia - que, claro, estava apenas fingindo levar choques.

Quantas pessoas chegariam ao ponto de aplicar os choques poderosos, correndo o risco de matar o "voluntário"? Cerca de 1 ou 2%, imaginou Milgram. Resultado: dois terços dos estudantes levaram a experiência até o fim, obedecendo às ordens do "pesquisador" - a figura de autoridade prevista no esquema de lavagem cerebral de Lifton. O compromisso (a concordância em participar do experimento) aumentava gradualmente (choques cada vez mais fortes), envolvendo a vítima cada vez mais na situação, e tornando a saída (desistir e mandar o pesquisador para o inferno) cada vez mais difícil.

Outro fator que Kathleen Taylor cita em seu livro é que, quanto mais redes cognitivas o cérebro de uma pessoa tiver - mais associações, ideias, opiniões, informações, experiências -, menos manipulável ela se torna. Desenvolver a criatividade, pensar sobre a vida, questionar o que é escutado e lido, aprender coisas novas, estudar as relações entre assuntos aparentemente não relacionados, tudo isso deixa o cérebro mais resistente a manipulações. Isso não significa apenas resistir a casos extremos de controle da mente mas também enxergar com senso crítico o horário eleitoral, as conversas de bar, as mensagens publicitárias e, por que não, tudo o que sai na mídia.

Claro, isso não significa que você precisa ter um pé atrás com toda opinião que for diferente da sua. Ser persuadido e mudar de ideia não tem problema nenhum. "Nossa vida social está construída sobre o controle psicológico que as pessoas têm sobre as outras. A todo momento influências externas fazem com que mudemos nossa atitude, dos aspectos mais banais aos mais sérios", exemplifica o professor Cesar Ades, pesquisador do assunto na Universidade Católica de Goiânia. "Uma conversa com alguém que admiramos ou que tem autoridade sobre nós pode mudar de verdade nossas crenças."

O importante é saber que nossa mente não está pronta e acabada, mas permanentemente em obras. Entender que somos influenciáveis e que nossa identidade é mutante nos torna mais espertos para avaliar uma tentativa de persuasão - com o córtex pré-frontal, por favor.

Revista Superinteressante março de 2009



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Queridos em primeiro lugar eu me considero um intelectual outsider , coisa aqui rara no Brasil , não pertenço a nenhum partido, não pertenço a nenhum grupo inclusive a nenhum grupo de intelectuais não respondo a nenhum credo , não participo de qualquer militância . ( Milton Santos . )

Meus escritos são para aqueles que desejam receber a verdade, num estado de mente simples e infantil, pois eles possuirão o reino de Deus. Escrevi unicamente para aqueles que buscam; para os astutos e expertos, nada tenho a dizer...
Agrada ao Supremo revelar seus segredos através do tolo, olhado pelo mundo como sendo um nada; percebe-se que seu conhecimento não procede destes tolos, mas Dele. Portanto, peço que considerem meus escritos como sendo os de uma criança a quem o Supremo manifestou Seu poder. Há tanto dentro deles, que nenhum tipo ou quantidade de argumentação ou raciocínio pode compreender ou alcançar; mas para os iluminados pelo Espírito, sua compreensão é fácil, e não passa de uma brincadeira de criança. – Boehme

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