Por que é que esbarras sem cessar contras as vidraças da janela fechada, besouro estonteado?
Não sabes que esse vidro é duro demais para teu crânio?
O que acabará em pedaços não será o vidro, mas sim tua cabeça.
Ou perecerás de fome e exaustão no peitoril da janela.
Olha para o lado! Não vês essa porta aberta em par?
Por que não renuncias a essa louca teimosia de querer passar onde não há passagem, e desprezas o caminho aberto?
O besouro estonteado, porém, continuou a esvoaçar furiosamente contra a vidraça da janela fechada.
Não quis saber de porta indicada por outrem — só quis saber da janela descoberta por ele mesmo.
Esse insipiente sabichão...
Esse teimoso egoísta cerebral...
E tanto voou, e tanto esbarrou, e tanto se cansou que finalmente, tombou, exausto e semimorto, no peitoril da janela.
Onde agonizou por mais um dia — e morreu...
Morreu na prisão, a dois palmos da liberdade...
*
* *
Por que tentas, minha alma, abrir teu caminho, quando está largamente aberto o caminho Dele?
Dele, que é o caminho, a verdade e a vida?...
Nunca ninguém achou a Deus, nem nunca ninguém achará a Deus — Deus, porém, pode achar o homem, suposto que o homem seja achável...
Despega o olhar da janela fechada do teu pequeno eu humano e volta-o para a porta aberta do grande Tu divino!
E deixarás a escravidão que encontraste, ganhando a liberdade que te é oferecida...
A "gloriosa liberdade dos filhos de Deus"...
Huberto Rohden
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