Há momentos em que é tão grande a minha insatisfação com o que há, que para não sufocar, escrevo. Nesses agudos momentos, por maior que seja o meu esforço, sou incapaz de esconder a qualidade do meu estado de espírito daqueles que ainda não tiveram sua sensibilidade adulterada. Diante destes, não há cosmética capaz de cobrir as verdadeiras cores de uma alma em sufoco. Eles olham e perguntam quase que em afirmativa negativa:
- Você está bem? Mesmo?
E, mesmo para estes, percebo a inutilidade de tentar traduzir o conteúdo que não pode ser descrito em palavras. A melhor tentativa de traduzir o não traduzível, quase sempre se traduz em maior conflito e confusão. Como diz um velho ditado italiano: traduttore, traditore, ou seja, o tradutor é um traidor por não conseguir ser fiel a essência. É como querer traduzir dores de parto em deserto escaldante para um homem que sempre viveu em geleiras. Ou como querer descrever o desespero da falta de luz para quem sempre viveu na escuridão. Nesses momentos de aguda insatisfação, o melhor mesmo é silenciar. Agora, se a dor for insuportável, melhor vomitá-la sobre o teclado, onde os inadequados comentários que não alcançam as súplicas da alma, ao menos podem ser deletados.
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