Perguntaram a Osho:
A mente jamais é decisiva. Não se trata da sua mente ou da mente de alguma outra pessoa — a mente é indecisão. O funcionamento da mente fica vacilando entre dois polos opostos e tentando descobrir qual é o caminho certo.
A mente é a coisa errada e, através da coisa errada, você fica tentando descobrir o caminho certo. É como se você, ao fechar os olhos, ficasse tentando encontrar a porta. Certamente, você se sentirá dividido entre os dois caminhos — se vai por este caminho ou por aquele outro; você se sentirá sempre numa condição de "ou/ou". É essa a natureza da mente.
Um grande filósofo dinamarquês foi Sören Kierkegaard. Ele escreveu um livro, Either/Or (Ou/ou). Era sua própria experiência de vida — ele jamais pôde decidir sobre qualquer coisa. Tudo era sempre de tal ordem, que se ele decidisse desse jeito, depois, aquele outro jeito é que pareceria o certo. Se ele decidisse daquele outro jeito, depois, este jeito é que pareceria ser o certo. Ele permanecia indeciso.
Ele ficou sem se casar, embora uma mulher estivesse muitíssimo apaixonada por ele e o tivesse pedido em casamento. Mas ele disse: "Eu terei de pensar sobre isso — o casamento é uma coisa importante, e eu não posso dizer 'sim' ou 'não', imediatamente". E ele morreu com a questão, sem se casar. Ele viveu muito — talvez uns setenta anos — e ficou continuamente apresentando argumentos, discutindo. Mas ele não descobriu resposta alguma que não tivesse seu oposto equivalente.
Ele jamais pôde tornar-se professor. Ele tinha preenchido o formulário, ele tinha todas as qualificações — as melhores qualificações possíveis! —, tinha muitos livros em seus créditos, de tamanha importância, que após um século eles ainda são contemporâneos, não envelheceram, não ficaram ultrapassados. Ele preencheu o formulário, mas não pôde assiná-lo — por causa do "ou/ou"... se entrava ou não no serviço. O formulário foi encontrado quando ele morreu, no pequeno quarto onde ele vivia.
Seu pai, vendo aquela situação — e ele era seu único filho —, vendo que até para ir a algum lugar ele parava no cruzamento para decidir ir por este caminho ou por aquele caminho... durante horas! Toda a Copenhague ficou sabendo da esquisitice desse homem, e as crianças o apelidaram de "Ou/ou", e os gaiatos o seguiam, gritando "Ou/ou!", aonde quer que ele fosse.
Antes de morrer, seu pai liquidou todos os seus negócios, juntou todo o dinheiro, depositou numa conta bancária, e deu um jeito para que, a cada primeiro dia do mês, Kierkegaard pudesse receber certo montante em dinheiro, de modo que, durante toda a sua vida ele pudesse, pelo menos, sobreviver.
E vocês se surpreenderão: no dia em que ele estava voltando para casa, no primeiro dia do mês, após retirar a última parcela do dinheiro — o dinheiro tinha acabado —, ele caiu na rua e morreu. Com a última prestação! Essa era a coisa certa a fazer. O que mais fazer? —... porque depois daquele mês, o que faria ele?
E devido aos gaiatos e a outras pessoas que o importunavam e o chamavam de "Ou/ou", ele saía somente uma única vez por mês, só no primeiro dia, para ir ao correio. Mas agora então não sobrara nada — no próximo mês ele não tinha aonde ir.
Ele escrevia livros, mas não estava decidido quanto a publicá-los ou não; ele deixou todos os seus livros sem publicar. Eles são de tremendo valor. Cada livro tem uma grande penetração nas coisas. Sobre cada assunto que ele escreveu, ele foi até às raízes, até os mínimos detalhes... um gênio, mas um gênio da mente.
Com a mente, esse é o problema — não é um problema seu — e, quando melhor mente você tem, maior será o problema. Mentes menores não encontram muito esse problema. É a mente do gênio que é oposta, com duas polaridades, e não pode escolher. E, então, ele cai num limbo.
O que eu tenho tentado dizer a vocês é que é da natureza da mente estar em um limbo. É da natureza da mente estar no meio dos polos opostos. A menos que você se afaste da mente e torne-se uma testemunha de todos os seus jogos, você jamais será decidido.
Mesmo se algumas vezes você se decidir, a despeito da mente —, você se arrependerá, porque a outra metade pela qual você não se decidiu, vai ficar perseguindo-o: talvez esta fosse a certa e a que você escolheu, a errada — e agora não há meios de se saber. Talvez a escolha que você deixou de lado fosse a melhor.
Mas, mesmo que você a tivesse escolhido, a situação não seria diferente, aí então, aquela que tivesse sido deixada de lado o perturbaria.
A mente é, basicamente, o princípio da loucura.
E se você estiver muito nela, ela o conduzirá à loucura.
Amado Osho,
Viver com decisão, saber o que se quer, parece fácil. Entretanto, a minha realidade é a de que eu não posso mudar a minha mente com relação a coisa alguma. Eu sempre posso ver ambos os lados de um argumento e jamais posso decidir qual é o certo. Assim, fico dependurado entre os dois. Uma parte de mim, ao ouvir você, sente que isso é ótimo, mas isso torna-me paralisado, como se eu tivesse apenas parcialmente vivo.
Por favor, comente.
A mente jamais é decisiva. Não se trata da sua mente ou da mente de alguma outra pessoa — a mente é indecisão. O funcionamento da mente fica vacilando entre dois polos opostos e tentando descobrir qual é o caminho certo.
A mente é a coisa errada e, através da coisa errada, você fica tentando descobrir o caminho certo. É como se você, ao fechar os olhos, ficasse tentando encontrar a porta. Certamente, você se sentirá dividido entre os dois caminhos — se vai por este caminho ou por aquele outro; você se sentirá sempre numa condição de "ou/ou". É essa a natureza da mente.
Um grande filósofo dinamarquês foi Sören Kierkegaard. Ele escreveu um livro, Either/Or (Ou/ou). Era sua própria experiência de vida — ele jamais pôde decidir sobre qualquer coisa. Tudo era sempre de tal ordem, que se ele decidisse desse jeito, depois, aquele outro jeito é que pareceria o certo. Se ele decidisse daquele outro jeito, depois, este jeito é que pareceria ser o certo. Ele permanecia indeciso.
Ele ficou sem se casar, embora uma mulher estivesse muitíssimo apaixonada por ele e o tivesse pedido em casamento. Mas ele disse: "Eu terei de pensar sobre isso — o casamento é uma coisa importante, e eu não posso dizer 'sim' ou 'não', imediatamente". E ele morreu com a questão, sem se casar. Ele viveu muito — talvez uns setenta anos — e ficou continuamente apresentando argumentos, discutindo. Mas ele não descobriu resposta alguma que não tivesse seu oposto equivalente.
Ele jamais pôde tornar-se professor. Ele tinha preenchido o formulário, ele tinha todas as qualificações — as melhores qualificações possíveis! —, tinha muitos livros em seus créditos, de tamanha importância, que após um século eles ainda são contemporâneos, não envelheceram, não ficaram ultrapassados. Ele preencheu o formulário, mas não pôde assiná-lo — por causa do "ou/ou"... se entrava ou não no serviço. O formulário foi encontrado quando ele morreu, no pequeno quarto onde ele vivia.
Seu pai, vendo aquela situação — e ele era seu único filho —, vendo que até para ir a algum lugar ele parava no cruzamento para decidir ir por este caminho ou por aquele caminho... durante horas! Toda a Copenhague ficou sabendo da esquisitice desse homem, e as crianças o apelidaram de "Ou/ou", e os gaiatos o seguiam, gritando "Ou/ou!", aonde quer que ele fosse.
Antes de morrer, seu pai liquidou todos os seus negócios, juntou todo o dinheiro, depositou numa conta bancária, e deu um jeito para que, a cada primeiro dia do mês, Kierkegaard pudesse receber certo montante em dinheiro, de modo que, durante toda a sua vida ele pudesse, pelo menos, sobreviver.
E vocês se surpreenderão: no dia em que ele estava voltando para casa, no primeiro dia do mês, após retirar a última parcela do dinheiro — o dinheiro tinha acabado —, ele caiu na rua e morreu. Com a última prestação! Essa era a coisa certa a fazer. O que mais fazer? —... porque depois daquele mês, o que faria ele?
E devido aos gaiatos e a outras pessoas que o importunavam e o chamavam de "Ou/ou", ele saía somente uma única vez por mês, só no primeiro dia, para ir ao correio. Mas agora então não sobrara nada — no próximo mês ele não tinha aonde ir.
Ele escrevia livros, mas não estava decidido quanto a publicá-los ou não; ele deixou todos os seus livros sem publicar. Eles são de tremendo valor. Cada livro tem uma grande penetração nas coisas. Sobre cada assunto que ele escreveu, ele foi até às raízes, até os mínimos detalhes... um gênio, mas um gênio da mente.
Com a mente, esse é o problema — não é um problema seu — e, quando melhor mente você tem, maior será o problema. Mentes menores não encontram muito esse problema. É a mente do gênio que é oposta, com duas polaridades, e não pode escolher. E, então, ele cai num limbo.
O que eu tenho tentado dizer a vocês é que é da natureza da mente estar em um limbo. É da natureza da mente estar no meio dos polos opostos. A menos que você se afaste da mente e torne-se uma testemunha de todos os seus jogos, você jamais será decidido.
Mesmo se algumas vezes você se decidir, a despeito da mente —, você se arrependerá, porque a outra metade pela qual você não se decidiu, vai ficar perseguindo-o: talvez esta fosse a certa e a que você escolheu, a errada — e agora não há meios de se saber. Talvez a escolha que você deixou de lado fosse a melhor.
Mas, mesmo que você a tivesse escolhido, a situação não seria diferente, aí então, aquela que tivesse sido deixada de lado o perturbaria.
A mente é, basicamente, o princípio da loucura.
E se você estiver muito nela, ela o conduzirá à loucura.
O sho, em "Além da Psicologia — Discursos no Uruguai"
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